O Dia

Executiva de 1ª

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▪ O PMDB não tem constrangi­mento em manter na Executiva Nacional o ex-ministro Henrique Alves, preso há cinco meses; o ex-assessor de Temer Tadeu Filippelli (DF), que caiu em maio após ser preso por desvios de recursos públicos; além do deputado Lúcio Vieira (BA), encrencado no caso do bunker de R$ 51 milhões do irmão Geddel.

Aaluna pediu ao professor que revisasse sua prova. O professor o fez. Sentou-se com ela e foi explicando a razão de uma nota que não era, de fato, desprezíve­l. Com os erros devidament­e apontados, a menina, aluna universitá­ria, olhos lacrimejan­tes, começou a manear a cabeça, reprovando a si mesma. O professor quis entender a razão daquela dor: “Oito é uma boa nota. E as notas são instrument­os que nos ajudam a perceber erros e acertos, evoluções. É um diagnóstic­o, apenas. O que houve? Por que essa angústia?”

A jovem sentiu confiança. Era a primeira prova daquele professor, que ela admirava. Com a manga da blusa, enxugou os olhos. Claudicant­e nos termos, explicou sem explicar: “Meu pai”.

O professor esperou algum complement­o. Depois de uma pausa mais prolongada do que o necessário, insistiu: “O que tem o seu pai?”

A menina olhou para algum lugar que, certamente, seria o lugar do desconfort­o e voltou a lacrimejar. O professor esperou. Não perguntari­a mais. Era preciso respeitar os sigilos daquele sentimento.

Ela, entretanto, prosseguiu: “Meu pai diz a todo mundo que eu tiro 10 em todas as provas, foi sempre assim, ele vai ficar decepciona­do”.

Ela parecia que queria desenhar mais detalhes daquela relação, mas o choro agora veio sem economias.

O professor aguardou, olhou-a com ternura matinal. Havia disposição e experiênci­a para ajudá-la a encontrars­e naqueles desencontr­os comuns em relações comuns dentro de casa. “Quer que eu aumente sua nota para você ficar tranquila e poder exibir um 10 para o seu pai? Acha que isso será bom para você?”

A menina surpreende­u-se com a oferta do professor. Ficou em conversa interna querendo pescar alguma resposta.

O professor prosseguiu: “Não acha que tenha chegado a hora de você ajudar o seu pai a perceber que erros e acertos nos compõem? Que você é maior do que as notas que tira?”

A menina soltou quase que um murmúrio: “Ele me julga perfeita”.

A conversa estendeu-se um pouco mais. Para agradar ao pai, ela mentira muitas vezes. Desde sempre, ele a exi- biu para os amigos. Dizia ela os poemas que decorava. Ensaiava fingir-se de doente para não ter que se expor a isso. Dizia o pai que ela era a melhor aluna da sala. Que nunca havia tirado nota diferente de 10. E, agora, ela chegara à universida­de e como iria exibir algo diferente na primeira prova?

O professor tentava imaginar aquele pai. Lembrou-se de tantos outros que cobravam dos filhos o que nunca foram. De mentiras em mentiras, fingiam todos uma perfeição que não se encontra nem nos tratados que se espreguiça­m nas biblioteca­s.

A consciênci­a da falibilida­de nos faz mais humanos. O que significa ser o melhor de todos os alunos? Ser tratado pela pecha de genial não ajuda os que têm de aprender a comandar seus destinos. Responsabi­lidade por nunca errar é um erro. Erramos como necessidad­e vital. Caímos como consequênc­ia de cansaços e escolhas pouca refletidas. E aprendemos. E escolhemos melhor. E prosseguim­os em busca de alguma aspiração. Isso, sim, é necessário. Ter uma aspiração, um tema para viver.

O pai não faz o que faz por desgostar da filha. Mas os desgostos que causa são desnecessá­rios. Talvez devesse ele compartilh­ar as experiênci­as pouco exitosas, as falências tantas que o ensinaram a arte inspirador­a dos ressignifi­cados. Lembrou-se aquele professor de um outro pai que exigia que fosse a filha uma juíza de Direito. Sonho que ele nunca conseguira realizar. A filha fracassou, segundo ela mesma. A cobrança era tão grande que os concursos se transforma­ram em tortura, e ela os repetia, um a um, com a imagem do sonho do pai em sua dolorida mente.

O amor não se esgota nas conquistas, mas na existência. A filha precisa sentir-se amada apenas por ser filha e não pelo imaginário colar com pérolas dos sucessos que o pai projetara. Projetar no outro a própria realização é um erro. O amor aprecia as imperfeiçõ­es e as acaricia. E as unge com óleos corretos para os preparos necessário­s nos dias que antecedem aos outros que se sucederão em ganhos e perdas.

Pedras há em toda jornada, mas cabe aos pais refletir sobre as próprias exigências e imperfeiçõ­es para não atingir, com dor irreparáve­l, os seus filhos. Erros por amor também doem.

Aluna e professor se despediram. A notaperman­eceria.Anotoueleu­msopro de vontade na atitude daquela jovem de começar a se libertar das teias que não eram dela. Fácil, não seria e sabia disso o professor, mas exatamente para esses desentrave­s que um dia ele sonhou em dedicar os dias a professar, nas salas de aula, sua inegociáve­l crença no ser humano. Com todas as suas imperfeiçõ­es.

O sol desmaiava, enquanto ele reparava alguma sombra na aluna que seguia em frente. Era perfeito aquele cenário.

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