Estado de compadrio
As ocorrências policiais não param; os dias estão repletos de verdades e inverdades. Os meios de comunicação produzem diversas versões do cenário político-policial: culpados e inocentes surgem nas diárias ações da PF. Notícias requentadas não deixam esquecer políticos em palanques elogiando parceiros de outrora que hoje estão presos. O aliado do passado é o inimigo de hoje. As imagens gravadas são um inferno, denunciam mau-caratismo e a infidelidade que rola no meio político.
A verdade do fenômeno se esconde nas aparências. No caso Geddel, a TV nos cegou mostrando apartamento e caixas de dinheiro sintetizando a notícia. Como na prática se consegue juntar aquele volume de dinheiro? Tem mais cédula circulando fora do que dentro bancos. Ao que tudo indica, a quantidade apreendida denuncia o fato. Tenta sacar dez, cinco ou dois mil na boca do caixa sem encomendar de véspera! Dá confusão, o Imposto de Renda é acionado, e a sua vida fica devassada. Sabemos o valor apreendido e o trabalho que deu à Polícia Federal contar o dinheiro, o volume da massa virou a notícia. Até é.
Estou aqui nessa aporia sobre a notícia, sabedor de que há muitas verdades. Sei também que o foco dá identidade à notícia e que os meios de comunicação manipulam o ocorrido. É o acordo com o partido político vinculado ao meio de comunicação, formador de opinião, que dá fisionomia à notícia, tendenciando a verdade em movimento perigoso. Tem a turma do PT, do PMDB, do PSDB. A lista é grande, vai ficar maior, tem partido aguardando aprovação de legenda, mais gente no balcão de negócios.
O STF, com seus ministros políticos, não escapa. Apadrinhados, não se querem impedidos para julgar, entram na brecha legal do pedido de vista e suspendem o veredito do foro privilegiado. Era acordo negociado na véspera — nós julgamos, ganha o desejo do povo, você pede vista e, em suspense, aguardamos os parceiros do Senado decidirem, certo, biscoito? É o Estado de compadrio.
“Assim é se lhe parece”, disse Pirandello, e os meios de comunicação corroboram. A notícia é o que se quer que ela seja, só ocultar o que não interessa na verdade inventada. Tudo se relativiza na ilusão das aparências que enganam a quem quer se enganar.
‘Assim é se lhe parece’, disse Pirandello, e os meios de comunicação corroboram. É notícia o que se quer