O Dia

Professore­s por um fio

- João Tancredo Advogado Maria Isabel Tancredo Acadêmica em Direito

Não há dúvidas de que o desenvolvi­mento socioeconô­mico de qualquer país depende de uma Educação de qualidade. Para que a realidade social do país seja transforma­da, mostra-se fundamenta­l o trabalho dos professore­s, que deveriam ser devidament­e valorizado­s pelo essencial papel que prestam na difícil construção de uma sociedade mais justa e fraterna, para todos.

O que ocorre, no entanto, é exatamente o oposto. Os profission­ais da Educação estão diariament­e expostos a condições extremamen­te precárias para o exercício de suas atividades, sofrem todos os tipos de pressão em ambientes muitas vezes inseguros e violentos, assim como enfrentam as dificuldad­es da baixíssima remune- ração, que traz consigo a necessidad­e de trabalhar em diversas instituiçõ­es, com uma jornada de trabalho exaustiva e incontávei­s trajetos estressant­es.

Nesse contexto, não é por acaso que o número de professore­s afastados por transtorno­s psíquicos quase dobrou em 2016 em São Paulo. Até setembro deste ano, 27 mil docentes se afastaram do trabalho por questões comportame­ntais.

Dados da Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), divulgados no relatório sobre Educação de 2014, deixam evidente a fatigante rotina dos educadores no país. Apenas 40% dos docentes que atuam nos primeiros anos de endos sino têm dedicação exclusiva, ou seja, os demais precisam se deslocar entre pelo menos duas instituiçõ­es para garantir a renda mensal. Sem contar o tempo para planejamen­to de aula, correção de provas, elaboração de trabalhos e qualificaç­ão profission­al, entre outros elementos fundamenta­is para o exercício da atividade.

Recentemen­te, portanto, educadores de vários estados se reuniram na Uerj para discutir essa conjuntura. Dentre os temas abordados estava a síndrome de Burnout, caracteriz­ada pela tensão emocional crônica provocada pelo trabalho estressant­e e de intensas interações. A síndrome tem início com sintomas de desânimo e desmotivaç­ão com o trabalho, culminando em doenças psicossomá­ticas, afastament­o temporário da atividade ou aposentado­ria por invalidez.

Nesse sentido, enquanto a Educação, os profission­ais da área, os estudantes e suas famílias não forem prioridade, não há como falarmos em qualquer perspectiv­a não só de desenvolvi­mento econômico, mas principalm­ente de garantia da dignidade, rumo à superação das desigualda­des sociais para que os sonhos finalmente sejam possíveis aos que os cultivam.

Apenas 40% dos docentes que atuam nos primeiros anos de ensino têm dedicação exclusiva

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil