O Dia

Doutor Hohoho

Homem que forma Bons Velhinhos fazia seus brinquedos na infância nas ruas e só ganhou presente aos 8 anos

- FRANCISCO EDSON ALVES falves@odia.com.br

Com um canivete, transforma­va chuchus, batatas, jilós e tomates, em bonecos, animais e super-heróis

LIMACHEM CHEREM

Famoso nesta época do ano por liderar cursos de formação de Papai Noel, Sebastião Benedito Cherem, de 62 anos, gera emprego e leva mensagens de esperança a muitos lares cariocas. Mas o que está por trás desta fábrica de sonhos? A vida de Limachem Cherem, como é conhecido o maior produtor de Papais-Noéis profission­ais da América Latina — mais de 500 em duas décadas —, tem uma emocionant­e trajetória de superação, driblando o sofrimento.

Como numa fábula, mas com contornos reais e dramáticos, Limachem passou a infância perambulan­do pelas ruas, sem ter nunca ganhado um presente de Natal. Com a morte do pai, José, quando ele tinha apenas 2 anos, o barra-mansense, nascido do bairro Coringa, no Sul do estado, foi morar com a mãe, na casa do padrasto. Mas logo fugiu, pois o “pai emprestado” era violento e batia nele e nas três irmãs.

“Fui morar embaixo de viadutos e bancos de praças”, lembra Sebastião, que vendo outras crianças recebendo presentes a cada 25 de dezembro, não se deixava abalar e confeccion­ava ele mesmo seus próprios brinquedos, esculpidos em legumes. “Com um canivete, transforma­va chuchus, batatas, jilós e tomates, em bonecos, animais e super-heróis. Cabos de vassouras viravam cavalos e latas de refrige- rantes, telefones. Era feliz assim, mesmo sem um teto, passando frio e fome”, lembra.

Mimo de Natal, “de verdade”, ele ganhou somente aos 8 anos. “Um carrinho de plástico, que jamais me esqueço”, conta. Fora dado por um rico militar, o coronel Silva Cotrim, que adotou o “simpático menino gordinho, sorridente e dos olhos claros”. “Como num conto de fadas, o militar me levou para casa dele, me deu banho e roupas novas. Mas, apesar da dureza imposta pelo relento, fui abraçar novamente as ruas. Achava esquisito ter babá, que me dava comida e me levava à escola, à missa, ao shopping, ao cinema...Tinha uma vida de rei, mas preferia meus brinquedos do mato e as brincadeir­as com outros meninos de rua”, ressalta.

Aos 10 anos, foi “intimado” a morar com a avó, Rosália, mas ela morreu sem seguida. “A liberdade das ruas me enfeitiçav­a e mais uma vez, voltei a viver nelas. Dormia em carros abandonado­s, nas calçadas, sob marquises”, detalha. Para defender uns trocados, virou engraxate, vendedor de verduras e capinador.

Já na juventude, foi cobrador de ônibus, copeiro e vendedor de livros. Foi quando começou a pesquisar, em obras literárias, o mundo das artes cênicas, com especial atenção à figura do Papai Noel. Foram anos e anos pesquisand­o tudo sobre a origem do ícone da Lapônia. Nascia, assim, a chama para a fundação, bem depois, em 1993, da Escola de Papai Noel do Brasil.

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Na escola de Papai Noel, dezenas de alunos por anos aprendem detalhes para manter a tradição dos sonhos natalinos
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Limachem Cherem ensina como pegar as crianças para fotos natalinas
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FOTOS DIVULGAÇÃO / LIMACHEM CHEREM Perfil do “Papai Noel oficial” do Brasil, Limachem Cherem, criador da Escola de Papais Noéis do Brasil

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