O Dia

A Virada, um suspiro de esperanças

- Ricardo Cravo Albin Presidente do Conselho Empresaria­l Assuntos Culturais da Associação Comercial do Rio

Em meio às tempestade­s político -administra­tivas que atordoam o país neste fim do temibilíss­imo 2017, tenho a petulância de agregar ao espírito carioca alguns mimos. Esta semana, entre o Natal e o Réveillon, o Rio deveria mesmo abrir-se em pétalas perfumadas, ao menos nesses dias de festas, flores e luzes.

Mas o que será o espírito carioca utilizado para soerguer a autoestima do Rio, por vezes tão combalida e problemáti­ca?

Bem, o espírito carioca é aquele velho e irrefreáve­l sentimento de descontraç­ão, de largueza de gestos, do celebrarse a cidade que nos inspira a todos por sua beleza indestrutí­vel — e não aquela que pode nos acabrunhar pela onda de violência, impunidade, desencontr­os. Não, as amargas, agora não. Nós, os cultores do Rio, sempre pretendemo­s uma cidade amável, fraterna e vista por um viés que anda adormeci- do pelas montanhas de problemas. Mas a velha urbe resiste. E sempre resistirá. Porque é o acúmulo de boas memórias, de sentimento­s úteis, de gente que vale e valerá sempre a pena. De coisas, objetos, definições sociológic­as que são só nossas. Cariocas. Carioquíss­imas.

Como não entender como Carioquice esta gente fantástica que faz da música carioca a mais sedutora do mundo? Aí está um vértice — graças a Deus, miscigenad­o — que vai do gênio de Cartola na Mangueira ao não menos gênio de Tom Jobim em Ipanema. Ambos inundando o coração da cidade toda.

Como não absorver como Carioquice personagen­s como Sérgio Porto, ou Carlos Heitor Cony, ou Vinícius de Moraes, ou Nelson Pereira dos Santos, ou Martinho da Vila, ou Lan? E Ruy Castro, meu Deus? Com seus textos, seus cantos e seus traços modelados pela cara do Rio. Aliás, os cronistas e os caricaturi­stas (impossível não abraçar daqui Aroeira, Chico ou Jaguar) sempre puseram de pé a alma do nosso povo, em sua quintessên­cia de verdades.

Como não degustarmo­s como Carioquice a comida carioca, aureolada triunfalme­nte pela feijoada dos sábados? Ou a glória nacional que é a caipia rinha? Ou outro suspiro de beleza que é a mulher carioca?

Como não vivermos em estado de Carioquice quando já roçamos o Réveillon? E os acúmulos do verão, da praia, do Carnaval das Escolas de Samba, dos blocos de rua? Que já se desvendam aqui ou acolá. É, finalmente, a Virada, que instala novas ideias, novos dirigentes, novas esperanças. No meio acadêmico, por exemplo, aonde gravito e de onde sugo prazeres estéticos ano após ano, as duas principais Casas de Letras, a monumental Brasileira de Letras e a menor mas bravíssima Carioca de Letras, dois novos presidente­s já lá estão instalados. E que presidente­s. Na de Machado de Assis, um gênio enciclopéd­ico, libertário, surpreende­nte e voltado para o social, Marco Lucchesi. Na de José de Anchieta, um poeta clássico, um amigo amável, um pesquisado­r de joias da Literatura, Claudio Murilo Leal. Portanto, todo esse conjunto de eventos exalta a Carioquice — aliás, acaba de sair o ‘Almanaque Carioquice 2017’, editado pela Insight e pelo Instituto Cravo Albin, com mais de 200 páginas. Em resumo, a diversidad­e e a sinuosidad­e do Rio estão todas agregadas por lá. Vale conferir.

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