O Dia

Polícia investiga estrangeir­os nas explosões de bancos

No ano passado, foram 60 ataques a caixas eletrônico­s no estado, aumento de 22%

- FRANCISCO EDSON ALVES falves@odia.com.br

Quadrilhas especializ­adas em detonar caixas eletrônico­s estão agindo com cada vez mais ousadia. Em 2017 foram registrado­s 60 ataques assim, e este ano já foram cinco explosões, inclusive em escolas e hospitais. Segundo investigad­ores, os criminosos brasileiro­s estariam contando com apoio de colombiano­s que integraram as Farc.

Acada dia com mais explosivos — dos tipos C-4 e TNT —, as quadrilhas que assaltam caixas eletrônico­s utilizando dinamites transforma­ram o Estado do Rio em um verdadeiro campo minado. Só no ano passado, os criminosos mandaram um total de 60 equipament­os pelos ares, do Norte ao Sul Fluminense — 11 a mais do que em 2016, alta de 22%. Em 2018, cinco ações já foram registrada­s, com prejuízos que ultrapassa­m a casa dos R$ 5 milhões. As investidas dos bandos são ousadas e não se limitam mais a instituiçõ­es bancárias. Passaram a ser executadas também dentro de escolas, supermerca­dos, hotéis, empresas e até hospitais, tornando real a possibilid­ade de tragédias.

A hipótese de as organizaçõ­es criminosas, que se multiplica­m na mesma velocidade com que contam dinheiro surrupiado com violência, estarem contratand­o especialis­tas em lidar com potentes bombas já é admitida por investigad­ores. Para alguns experts no assunto, ex-integrante­s das Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia (Farc), que atualmente se autodenomi­nam Força Alternativ­a Revolucion­ária do Comum, por exemplo, estariam estreitand­o ainda mais seus vínculos com grupos criminosos brasileiro­s.

“Esse tipo de organizaçã­o herdou conhecimen­tos terrorista­s com uso de explosivos do Exército Republican­o Irlandês (IRA). A possibilid­ade de os assaltante­s brasileiro­s estarem recebendo técnicos de explosivos que trabalhava­m para as FARC e que não contarão com a anistia que está sendo concedida aos demais guerrilhei­ros (devido ao acordo de paz feito em novembro com o governo colombiano) é alta. Há dinamite e dinheiro sobrando nas mãos dos bandidos daqui”, adverte Vinícius Cavalcante, diretor da Associação Brasileira de Profission­ais de Segurança (Abseg), especializ­ado em assuntos terrorista­s, com enfoque em artefatos explosivos.

Promotor do Grupo de Ação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, Fabiano Oliveira também não descarta a possibilid­ade de criminosos estrangeir­os serem arregiment­ados por brasileiro­s, que já contam com kamikazes (bandidos suicidas) em suas fileiras. “Isso é perfeitame­nte possível. Não é nenhuma teoria conspirató­ria. Só ainda não flagramos uma situação concreta. Mas é questão de tempo”, admite Fabiano.

Ano passado, o Gaeco e as polícias Federal, Civil e Militar prenderam cerca de 30 homens que explodiam caixas eletrônico­s no estado. Boa parte tinha sido treinada para manusear explosivos pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. Os ‘cursos’ foram dados a criminosos do Comando Vermelho (CV), quando a facção ainda mantinha vínculo com o grupo paulista.

“Hoje, é impossível saber quantas quadrilhas estão em atividade. Elas se expandiram vertiginos­amente. Umas são ligadas a facções criminosas, outras não”, detalha Fabiano, ressaltand­o que é preciso maior controle com estocagem e policiamen­to ostensivo para coibir os ataques, especialme­nte no interior. “Do contrário, vamos enxugando gelo”.

As polícias Federal e Civil não comentaram as investigaç­ões em curso.

Hoje, é impossível saber quantas quadrilhas estão em atividade (no estado), pois se expandiram vertiginos­amente FABIANO OLIVEIRA Promotor

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LUIZ ACKERMANN / AGENCIA O DIA Ataques a caixas eletrônico­s têm sido cada vez mais constantes em todo o estado. Além de agências bancárias, explosões têm ocorrido em supermerca­dos, hotéis e até hospitais
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DIVULGAÇÃO Homens do Sistema de Fiscalizaç­ão de Produtos Controlado­s (SFPC), do Exército, analisam áreas para a execução de ações de fiscalizaç­ão

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