O Dia

DE VERDADE

É na Estrada Intendente Magalhães que o Carnaval do povão acontece. Quem vai assistir pode acabar participan­do do desfile e a festa, de graça, vai até o sol raiar

- GUSTAVO RIBEIRO gustavo.ribeiro@odia.com.br

Criado no Méier e morador de Laranjeira­s, o engenheiro Flávio Torres, de 60 anos, atravessa a cidade todo ano com um grupo de 15 amigos para curtir o Carnaval na Intendente Magalhães, no Campinho. A 22 quilômetro­s do luxo da Sapucaí, já viu muitas cenas curiosas. “Lembro que uma vez só tinha uma baiana representa­ndo a ala toda em uma escola”, conta. No corre-corre da concentraç­ão, muitas vezes sem gente suficiente para desfilar, homens acabam colocando vestidos rodados para representa­r as bravas nordestina­s. “Só não pode deixar a barba à mostra!”, ressalta o rodoviário Bruno Surcin, 29, que mora na Vila Valqueire e frequenta a folia no bairro vizinho há 7 anos.

De um lado da rua, a atmosfera cinza do trânsito abre alas para alegorias e fantasias coloridas. Buzinas e motores dão lugar à batucada. De outro, cariocas e turistas, moradores da Zona Sul à Zona Norte, jovens e idosos comem, bebem, cantam e sambam, juntos, em volta de barraquinh­as de churrasqui­nho, hambúrguer e cachorro-quente. Ninguém paga para brincar. Palco da festa do povo há 13 anos, a Estrada Intendente Magalhães— entre os números 116 e 270— reúne cerca de 200 mil foliões em cinco dias de desfiles.

De sábado a terça de Carnaval e no sábado seguinte, das 20h até o sol raiar, pelo menos 56 escolas dos grupos de acesso B, C, D e E cruzarão os 380 metros da passarela em busca do mesmo sonho: escalar rumo ao estrelato na Sapucaí. Mais de 100 famílias que moram no Conjunto Residencia­l Waldemar Rodrigues da Silva têm camarote privilegia­do. A maioria espera ansiosamen­te fevereiro chegar e curte a folia em cadeiras de praia.

Desde que se mudou para a Intendente, há 11 anos, a professora de Educação Física, Maria Isabel Salvado, 35, desfila todos os anos em três, quatro, cinco escolas. Até na última semana de gravidez do Miguel, de 6 anos, não abriu mão da folia. “Perdemos as contas de em quantas escolas a gente desfila, porque estão sempre precisando completar as alas. A gente prende o chinelo na cintura, bota a roupa ali mesmo e vai”. A letra do samba, aprendem na hora.

A simplicida­de acolhedora não distingue rainhas e súditos. Até o ano passado as musas trocavam de roupa no meio da rua. Em 2018, a Tradição vai ceder um camarim para a equipe da empresária Clara Cruz, que mora no mesmo condomínio que Isabel, aprontar as beldades com preços camaradas. Musa da São Clemente e da Renascer, Egili Oliveira, 35, estreia este ano na Intendente como rainha de bateria da Mocidade Unida do Santa Marta. “Não importa se é no Grupo de Acesso ou Especial. O Carnaval é para o povo”, diz a mulata. E é para o povo mesmo. Das arquibanca­das, a galera pode descer e desfilar na sua escola. Como em 2008, quando cerca de 150 moradores do Jacaré seguiram a Unidos do Jacarezinh­o entoando o samba.

Perdemos as contas de em quantas escolas desfilamos. A gente prende o chinelo na cintura, bota a roupa ali mesmo e vai

MARIA SALVADO, professora

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Estreante como rainha na Intendente, Egili Oliveira (ao lado) vai contar com moradores de Campinho na plateia (abaixo)
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FOTOS ALEXANDRE MACIEIRA/RIOTUR na via para milhares de pessoas Alas coloridas fazem coreografi­a Carros alegóricos capricham nas cores e valorizam os destaques apresentaç­ões levam faixas e aplaudem Espectador­es
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ALEXANDRE BRUM
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