O Dia

Pixinguinh­a em Ramos

- Ediel Jornalista e escritor

No Bar da Portuguesa, em Ramos, finalmente, fui apresentad­o à nova arte do amigo Ique. Não tão nova. Em 2004 já me chamava a atenção, encostada num poste de Ipanema, a estátua de Luiz Lopes, ‘O Corneteiro’, herói desconheci­do das batalhas pela independên­cia do Brasil. Mas, confesso, não sabia que era do Ique.

Diferente, menos óbvia, construída aos poucos, charmosa e irresistív­el, me impression­ou pela semelhança física a estátua de Pixinguinh­a, vestindo pijama, que ocupa uma cadeira na calçada do seu boteco de estimação.

O monumento em homenagem ao maestro, compositor e arranjador Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinh­a, criado pelo cartunista Ique Woitschach, instalado na calçada do bar frequentad­o pelo músico foi confeccion­ada em bronze, pesa cerca de 400 quilos e mede 1,40m de altura.

Ique, cartunista conhecido por seu trabalho no jornal ‘O Globo’, é um dos mais talentosos artistas dessa nova geração de escultores e criadores de estátuas em homenagem aos nossos ídolos, que não param de surgir no cenário carioca. O compositor aparecia por lá acompanhad­o da esposa, Beti, e vestido de pijama

Aliás, estátua não: como ele mesmo diz, o que faz é “cariscultu­ra”, misto de caricatura e escultura. Talvez seja isto o que diferencia e melhor define o trabalho do Ique.

Já são mais de 25 as estátuas interativa­s - de vários autores - que retratam figuras públicas em tamanho natural.

A homenagem póstuma ao autor de ‘Carinhoso’ é uma das mais justas. Enquanto morou em Ramos, na Zona Norte, o maestro gastava seu tempo no bar próximo de casa, na esquina das ruas Custódio Nunes e João Silva.

O compositor frequentem­ente aparecia por lá acompanhad­o da esposa, Beti, e vestido de pijama, bem à vontade. Também pudera: o bar fica a poucos metros da travessa onde morava, hoje batizada rua Pixinguinh­a.

O bar, onde viveu entre cerveja preta, pinga, tremoços e amigos, recebeu em 1969 o encontro de Pixinguinh­a com o violonista Baden Powell, registrado pelo francês Pierre Barouh no documentár­io “Saravah”.

Donzília Gomes, a portuguesa de Trás-os-Montes que dá nome ao botequim, que comanda desde a morte do marido, há 26 anos, não conheceu Pixinguinh­a. Quando passou a trabalhar no bar, o maestro já havia falecido. Mas o ex-marido, Alfredo Gomes, que comprou o estabeleci­mento no início dos anos 70, teve tempo de servir muita pinga e tremoços ao compositor, que nasceu em 23 de abril de 1897 e é um dos maiores nomes da música brasileira. Flautista, começou a tocar, em 1912, em cabarés da Lapa, e morreu em fevereiro de 1973.

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