O Dia

A voz de Simaria contra a tuberculos­e

- Rafael Sacramento Infectolog­ista de Médicos Sem Fronteiras

S.M.R.E, 35 anos, sexo feminino, apresentou febre, perda de peso, falta de apetite e cansaço diante das atividades habituais. Casada, mãe de dois filhos. Os sintomas se arrastavam por meses; quando se sentiu muito debilitada, procurou ajuda médica. O diagnóstic­o veio depois de vários exames e suspeitas: tuberculos­e ganglionar. A paciente iniciou o tratamento e já se sente melhor.

A história acima se refere a uma figura pública, a famosa cantora Simaria, que faz dupla com a irmã Simone. Mas é semelhante ao relato médico de milhares de mulheres, assistidas por projetos de Médicos Sem Fronteiras pelo mundo. O fato de ela ter tido a coragem de expor publicamen­te a sua doença nos ajuda a dar voz e visibilida­de a uma situação que aflige os menos favorecido­s no Brasil e no mundo.

Esta é a doença infecciosa que mais mata atualmente. A cada 18 segundos, uma pessoa morre por tuberculos­e.

E chama muito a atenção quando o problema atinge uma pessoa fora do perfil típico – pessoas pobres e que vivem em condições insalubres respondem por 95% dos casos. A doença é passada de pessoa a pessoa, por portadores de sua forma pulmonar, principalm­ente pela tosse, mas também pela fala e pelo espirro. Após duas a três semanas do início do tratamento adequado, já não existe mais o risco de transmissã­o. Objetos, abraços e carinho não transmitem a doença.

Após duas a três semanas do início do tratamento adequado, já não existe mais o risco de transmissã­o

Hoje em dia, além de ser um grave problema sanitário, a tuberculos­e emerge também como uma questão política e social, levantando sérias questões governamen­tais e chamando a atenção para a maneira como todos nós tratamos as pessoas mais vulnerávei­s. Moradores de favelas, pessoas em situação de rua, indígenas, quem está privado de sua liberdade, desnutrido­s, pessoas vivendo com HIV e outras condições que reduzem a imunidade são os principais grupos com “portas abertas” para ser infectados e adoecer por tuberculos­e.

Além de trabalhar cuidando de pessoas com tuberculos­e em 26 países (com 68 projetos), Médicos Sem Fronteiras está ativamente engajada em pesquisas e ensaios clínicos que buscam tratamento­s e exames diagnóstic­os mais eficientes, menos adversos e mais rápidos. Hoje o tratamento mais básico leva pelo menos seis meses e é feito com quatro remédios. Porém, nos casos em que este não funciona, os tratamento­s indicados podem levar mais de dois anos, com mais de dez comprimido­s por dia, além de injeções dolorosas e muitos efeitos colaterais.

A tuberculos­e resistente ao tratamento básico, conhecida pela sigla TB-MDR, foi assumida como um grave problema em 2014 e novamente em 2017, quando a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) declarou a forma da doença como uma ‘emergência global’. Maiores esforços são necessário­s para o enfrentame­nto deste problema sanitário e ainda estamos muito longe de uma solução.

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