O amigo do presidente
O placar do Estádio San Paolo de Nápoles marcava a vitória suada da Inglaterra por 3 a 2 sobre Camarões pelas quartas de final da Copa de 1990, na Itália. Os ingleses alcançavam a fase semifinal de um Mundial depois de 24 anos e festejavam como loucos, mas foram os camaroneses que saíram de campo como vencedores, aclamados pela torcida italiana. Afinal, uma seleção africana jamais tinha chegado tão longe na história do torneio. Uma façanha digna de aplausos de pé.
A campanha de Camarões chamou a atenção de todos desde o primeiro jogo, justamente o da abertura daquela Copa. A vitória por 1 a 0 sobre a Argentina, atual campeã do mundo, foi um belo cartão de visitas dos Leões Indomáveis, liderados pelo veteraníssimo atacante Roger Milla, de 38 anos.
A presença de Milla na lista de convocados só foi garantida graças a uma ‘ordem’ de Estado. Um ano antes da Copa, ele assinou com o JS Saint-Pierroise, da Ilha de Reunião, um pequeno arquipélago de posse francesa perto da costa de Madagascar, no sudeste da África. Fora para lá depois da morte da mãe e para que sua mulher tivesse uma gravidez tranquila. O treinador de Camarões, o soviético Vladimir Nepomniachi, o havia deixado de fora dos convocados. Mas, faltando uma semana para a apresentação do grupo, Milla recebeu um telefonema. Era simplesmente o presidente de Camarões, Paul Biya, garantindo sua presença, passando por cima das decisões da comissão técnica e dos dirigentes da federação local. Milla viajou, jogou, e foi artilheiro do time naquela Copa do Mundo, com quatro gols. Camaronês Roger Milla (D), com a camisa da Inglaterra, agradece o apoio do público italiano após a partida
>