O Dia

Realismo fantástico como antídoto à realidade do país

> Pernambuca­no de Carpina, Aguinaldo Silva foi repórter policial, mas se consagrou como novelista. Faz parte do primeiro time de autores da Globo. Quando um trabalho novo do autor não está no ar, não raro, uma novela sua é reprisada na TV, como ‘Senhora d

- > Do Estadão Conteúdo

O DIA:

‘O Sétimo Guardião’ marca sua volta ao realismo fantástico. É um gênero mais popular na literatura, no cinema e menos na TV? É a percepção que você tem?

AGUINALDO SILVA:

Sim, a TV é mais “realista” e, de certa forma, quem quebrou esse realismo foi o Dias Gomes. Como eu nasci no interior do Nordeste, numa cidade onde tem todas essas lendas absurdas, essas histórias de Mulher de Branco, eu tinha isso no meu imaginário. Quando me chamaram para fazer ‘Roque Santeiro’, entrei nesse universo e achei que me movimentav­a bem nisso. Fiz uma sequência de novelas que fizeram muito sucesso com essa linguagem. Depois, entrei meio que em crise e resolvi ser um autor realista com ‘Senhora do Destino’. Mas agora percebi que a realidade brasileira está tão extremada que não dá para você repetir isso nas novelas.

Então, você fez pensando muito nesse momento em que o Brasil está vivendo?

É, a novela tem alusões a esse momento, mas, ao mesmo tempo, ela transcorre num universo muito particular. Por exemplo, a cidade onde se passa a história não tem telefonia celular. Lá não chega o sinal. Só que, na metade da novela exatamente, chega a telefonia celular, porque a Valentina (Lilia Cabral) põe uma rede lá, porque diz que não pode ficar sem celular.

Sempre ouvimos falar de Serro Azul nas suas novelas e nunca a vimos. Vamos ver agora...

Sim, e agora é o contrário, as pessoas vão a Greenville, a Tubiacanga, e eu trouxe personagen­s, por exemplo, o Ypiranga e a Scarlet, que eram de ‘A Indomada’, vividos novamente por Paulo Betti e Luiza Tomé. Mas teve um problema sério, porque o Paulo foi escalado para outra novela. Então, vou ter que tirar os dois a certa altura.

A Valentina já tem até Instagram, com suas frases ácidas. Quem criou esse perfil?

É um jornalista que está fazendo. Valentina talvez seja meu personagem mais extremado, porque, neste momento em que as coisas estão meio complicada­s, você não pode falar tanta coisa. Ela pode, porque é a vilã. Se fosse personagem do bem, não podia.

Você tinha anunciado a volta da Nazaré Tedesco na novela, mas Renata Sorrah pediu para deixar a personagem quietinha. Você ficou chateado?

Não, pelo contrário, achei que ela estava certa. Acho que trazer a Nazaré de volta, sem que ela tivesse o mesmo impacto que teve na outra novela, seria um erro. Os elementos que eu já tinha para o personagem, usei na trans. Porque eu também estava muito incomodado com essa coisa de trans nas novelas ser sempre muito certinho, muito bem-comportado.

A trans que é interpreta­da pela Nany People?

Sim, mas que eu queria que fosse a Renata (Sorrah).

Queriam que você colocasse uma trans, não?

Sim, aí falei para o Papinha (o diretor Rogério Gomes), tudo bem, me arranja uma trans que seja tão boa atriz como Renata Sorrah. Estava certo que ele não ia arranjar. Não conhecia a Nany, só ouvia falar. O Papinha me mandou um teste, vi e achei sensaciona­l. Perguntei quem era. Ele disse que era a Nany. Falei, já está escolhida.

O que diz sobre o fato de ex-alunos de sua masterclas­s terem reivindica­do autoria dessa história da novela?

Na verdade, ninguém reivindico­u. O que houve foi uma sequência de idas de algumas pessoas que nunca foram identifica­das ao que eu chamo de baixa mídia, que são os pequenos blogs e sites, mas nunca apareceu ninguém que protestass­e oficialmen­te.

A não ser o Silvio Cerceau?

Pois é, e eu que estou processand­o ele, porque ele assinou um contrato que tinha uma cláusula de confiabili­dade. Mas esse caso está na Justiça e nem posso falar sobre isso.

Nessa master, vocês chegaram então a falar desse universo de ‘O Sétimo Guardião’?

Sim, tinham elementos, porque era uma novela que eu pretendia fazer. Então, fomos falando sobre isso ao longo da master, partindo de mim para eles. A teoria eu passo na prática, eu incentivo os alunos a desenvolve­r certos temas que eu coloco. O desenvolvi­mento deles é ou não aprovado por mim. Eu já fiz uma masterclas­s em Portugal, quatro aqui, estou fazendo a quinta, e nunca houve nenhum problema, porque os alunos sabem qual é a função deles ali e, além disso, assinam toda a documentaç­ão legal que libera o material para mim.

Os nomes desses alunos vão aparecer nos créditos da novela?

Não sei exatamente... Quando fiz ‘Fina Estampa’, foi uma sinopse que a gente trabalhou. A Globo, nos créditos finais do primeiro capítulo, citou o nome dessas pessoas como participan­tes da minha masterclas­s da qual saiu a sinopse. Presumo que isso vai acontecer também agora.

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