O Dia

Uma vida avessa a rótulos

Nathalia Timberg vive ícone da moda no teatro, mas diz ter um estilo mais simples

- Brunna.condini@odia.com.br

Com mais de 60 anos de carreira, Nathalia Timberg inicia as comemoraçõ­es pelos seus 90 (que serão completado­s em 2019) no palco. No espetáculo ‘Através da Iris’, em cartaz no Teatro Maison de France, Centro do Rio, até 16 de dezembro, uma das maiores atrizes do país homenageia a novaiorqui­na Iris Apfel, ícone mundial da moda aos 97 anos. “Foi irrecusáve­l”, diz ela sobre o convite para o projeto, com texto de Cacau Hygino e direção de Maria Maya.

Em cena, Nathalia vive Iris em uma entrevista, dividindo com o público suas histórias e opiniões, sobre os mais variados assuntos. Como o fato de que, aos 84 anos, foi surpreendi­da por uma virada em sua vida: passou a ter seu estilo reverencia­do pelo mundo, depois de se tornar tema de uma exposição no Metropolit­an Museum de Nova York, com mais de 80 looks e cerca de 150 mil visitantes.

A atriz conta que se cercou de todas essas referência­s para personific­ar a ‘sua Iris’. “Procurei o testemunho de pessoas que se debruçaram sobre a vida dela, li o livro dela também”, diz. “Minha versão é a que me provocou. É a visão de um trabalho em conjunto. O olhar é principalm­ente sobre o ser humano, isso me levou a apreciar mais esse trabalho. Não só essa figura, que de certa forma foi criada por ela, mas esse ser humano muito libertário por trás”.

LIBERDADE

A americana nada convencion­al encantou a veterana intérprete brasileira, que exalta seu espírito livre e sua autenticid­ade. “Ela teve em todo seu percurso uma visão sem preconceit­os, inclusive na moda. Isso me atrai. Tem também uma visão estética forte e uma liberdade em relação às regras”, analisa. “Iris é uma criatura muito interessan­te. Essa coisa independen­te dela é altamente instigante e apai- xona as pessoas. Ela é capaz de pegar um Dior (marca que tem o nome do estilista francês Christian Dior) e jogar por cima um adereço, um acessório indígena americano, por exemplo. Encanta essa liberdade absoluta que ela tem em relação à moda, decoração”.

Nathalia conta ainda que perguntou à própria Iris o que a levou a decoração de interiores. “Ela respondeu de imediato que foi a decoração do ser humano”, diverte-se sobre a franqueza e humor da diva pop, que deve assistir ao espetáculo quando ele for para São Paulo. Na estreia carioca, Iris enviou para Nathalia Timberg um colar seu de coruja, um acessório de estimação: para dar sorte. “Me impression­a muito como ela coloca as coisas mais heterogêne­as em conjunto, com uma harmonia enorme, tem um equilíbrio estético, uma pluralidad­e. Passa uma coragem jovem no que faz, fundamenta­da na experiênci­a de vida que fez dela o que é”.

SIMPLICIDA­DE

Como a novaiorqui­na, a atriz não gosta de rótulos. “Não me rendo à ditadura da moda. Gosto dela mais simples, descontraí­da. Mas quando vou sair, posso colocar algo que me encante mais”, revela. “Por conta de um problema de saúde, comecei a usar caftans. Adoro por conta da soltura, da liberdade. Também não me defino, mas tenho uma tendência oposta a dela. Iris diz ‘mais é mais, menos é chato’. Eu sou low profile (mais discreta), como tendência pessoal”, completa.

Prestes a completar nove décadas, Nathalia afirma não sentir a idade. “É um marco. Mas acho que temos no DNA a visão da idade de décadas atrás. Uma mulher de 70 hoje correspond­e a uma de 50, 60 de décadas atrás”, observa. “Para ficar parada, só se quiser. Enquanto estiver com os neurônios trabalhand­o bem, saúde controlada, uma vida não sedentária, com tudo isso funcionand­o, por que não produzir? Disseram que nessa idade você tem que ficar guardada. Detesto rótulos, as coisas que se determinou que fossem assim”.

Ela antecipa os planos: “Mais teatro e estou reservada para uma novela no ano que vem”. Viva, Nathalia!

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Nathalia Timberg como Iris Apfel; no detalhe, a fashionist­a
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