Alerta para o risco de deslizamento 2 anos antes
Vítimas de deslizamento em Niterói alertaram sobre o risco no morro, que já tinha problemas na época
Um desmoronamento ocorrido no mesmo Morro da Boa Esperança, em Niterói, onde no último fim de semana morreram 15 pessoas, fez a prefeitura prometer providências. Apesar do alerta feito por uma moradora da comunidade, contenção acabou não sendo executada.
Uma promessa feita pela Prefeitura de Niterói, em setembro de 2016, a uma das vítimas do Morro Boa Esperança, que perdeu a casa e dois sobrinhos — um de 3 anos e outra de 10 meses —, garantia obras imediatas de contenção de encostas no local onde houve o deslizamento, que matou 15 pessoas no sábado. Raquel Caetano, de 27 anos, procurou o prefeito Rodrigo Neves em sua página oficial no Facebook, denunciando, naquela época, a situação do morro ao redor de sua casa, que já apresentava deslizamentos.
Ontem, a prefeitura divulgou um levantamento feito em março que indicava o custo de R$ 343 mil com obras no local, que nunca foram executadas. Ao Jornal Nacional, a empresa Thalweg, que vistoriou o morro, afirmou que não identificou a rocha que deslizou e a obra proposta não teria sido suficiente para evitar a tragédia.
Na conversa, Raquel também compartilhou imagens onde era possível ver buracos na encosta. Como resposta, foi informada de que receberia visita da Defesa Civil. Agora, o sentimento é de dor: “Vou chamar para enterrar os meus sobrinhos”, desabafou. “A gente não queria estar aqui. Isso é desumano. Não respeitaram a gente”, completou a moradora.
Em nota, a prefeitura se limitou a dizer que “a Defesa Civil de Niterói vistoriou o imóvel, que foi interditado em 8 de março de 2017, por motivos não relacionados à ruptura do maciço”. O município destaca ainda que a ocorrência trata-se de um “processo de difícil previsibilidade”. A comunidade da Boa Esperança foi incluída entre os 2 mil pontos analisados no mapeamento da prefeitura, que não apontou a área
como de “alto risco”. O estudo será concluído em dezembro. Segundo Raquel, no auto de interdição havia a recomendação de adoção de medidas de contenção e estabilização da encosta, acompanhado de um sistema de drenagem de água, além de limpeza e o impedimento do
despejo de mais resíduos, mas nada foi feito. “Muitos moradores de comunidades de Niterói, após 2010, foram notificados para saírem de suas residências numa espécie de ‘eu avisei’”, destacou o deputado estadual Flávio Serafini (Psol), que esteve com desabrigados ontem, junto com outros parlamentares.
O irmão de Raquel Caetano, Rafael Caetano, também já havia alertado a prefeitura
há dois anos. Ele encomendou, por conta própria, na época, uma avaliação de um arquiteto sobre as condições do imóvel onde morava em Boa Esperança. Em 2016, sua casa foi atingida por uma pedra de meia tonelada, e o estudo já alertava para outra grande pedra prestes a causar ‘prejuízo catastrófico’, conforme documento assinado pelo arquiteto Aécio Nery de Almeida.