Mais de 200 obras estão paradas à espera de solução
Obras dos governos federal e estadual no Rio estão paralisadas e esperam por soluções de Bolsonaro e Witzel; 229 são apenas do PAC
Segundo o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, 229 projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em 45 cidades do estado aguardam decisão do presidente eleito Jair Bolsonaro. Pelo menos oito obras estão interrompidas por falta de recursos do governo do Rio.
Opadeiro André Araújo da Silva, de 43 anos, usava uma enxada para improvisar a abertura de uma valeta no chão de terra batida. Morador do Morro do Pau Branco, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, ele queria impedir, após os últimos temporais, que a água da chuva que alagou ruas de vários municípios e o esgoto entrassem em sua casa.
O esforço de André foi em vão. A comunidade inteira ficou coberta de lama devido ao temporal. A situação poderia ser diferente se as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, estivessem ficado prontas. O projeto de urbanização, orçado em R$ 66,6 milhões, parou e o drama dos moradores parece não ter fim. “As obras começaram há um ano, mas pararam. Fizeram só o meiofio. As ruas estão sem asfalto e o esgoto fica a céu aberto”, contou o pedreiro.
Segundo o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, 229 obras do PAC, como a do Morro do Pau Branco, foram interrompidas e aguardam uma solução do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Elas somam um total de R$ 52,6 bilhões de investimentos em infraestrutura, saúde, educação, cultura e transportes, distribuídos em 45 das 92 cidades do estado.
E não é só do PAC. O governo federal abandonou, por exemplo, os trabalhos de duplicação da BR-493, em Manilha, Itaboraí. Dos R$ 289,4 milhões orçados, apenas R$ 69 milhões foram aplicados. Em Barra Mansa, a adequação da linha férrea, que deveria ficar pronta em 2012, também não foi concluída. Faltaram R$ 51 milhões.
A mesma situação ocorre com obras com recursos do governo do estado. Pelo menos oito estão paradas. Uma delas é a do Hospital da Mãe, em São Gonçalo. Já foram gastos R$ 10 milhões (de um total de R$ 37,2 milhões) e deveria ser entregue à população em 2013 para 10 mil consultas e 800 partos por mês.
“O hospital está abandonado, precário. Muitas mães poderiam ter seus filhos aqui”, lamentou a dona de casa Michele Soares, de 31 anos, ao lado da mãe Regina Lira Soares, de 62.
Na lista, há ainda três escolas, um hospital, um museu e a Linha 4 do metrô. Os investimentos previstos chegam a R$ 105,5 milhões.
Os motivos que suspenderam as obras dos governos federal e estadual são variados. Além da falta de dinheiro nos orçamentos, há casos de corrupção, brigas judiciais, impasses ambientais, desapropriação de imóveis e até abandono das construtoras.
GESTÃO E BUROCRACIA
Para Gil Castello Branco, secretário-geral da Associação Contas Abertas, as paralisações ocorreram, principalmente, pela crise fiscal da União e do governo do Rio. Mas, segundo ele, a falta de gestão e a burocracia também contribuíram.
“Quem perdeu foi a sociedade, punida duas vezes. Pagou os impostos para obras que não foram concluídas e também não usufruiu de nenhuma delas”, ressalta Gil.
Procurada pelo DIA ,a equipe de Jair Bolsonaro não quis comentar sobre os planos para o PAC e outras obras federais. Em nota, Wilson Witzel afirmou que “as ações do futuro governo para a gestão de obras públicas serão definidas durante o período de transição”.
Quem perdeu foi a sociedade, punida duas vezes. Pagou os impostos para obras que não foram concluídas e não usufruiu de nenhuma delas GIL CASTELLO BRANCO, do Contas Abertas