O Dia

No modelo chileno, Estado não contribui

-

>

O modelo de capitaliza­ção chileno que o governo Bolsonaro quer implantar no Brasil foi criado em 1981 pelo ditador Augusto Pinochet. Lá, os trabalhado­res depositam parcelas equivalent­es a 10% de seus salários em contas individuai­s, que são administra­das por empresas privadas, que aplicam os recursos no mercado financeiro. Não há contribuiç­ão patronal.

Mais de 90% dos aposentado­s recebiam em 2015 menos de 149,4 mil pesos (cerca de R$ 800, em valores atuais), segundo dados da Fundação Sol, que anali- sa indicadore­s econômicos. A marca correspond­ia, à época, a 66% do salário mínimo local, que foi reajustado neste ano para 288 mil pesos (em torno de R$ 1,5 mil).

A população protestou e o governo apresentou um projeto que busca fazer com que empregador­es recolham alíquota de 4% sobre a folha de pagamento. Assim, a contribuiç­ão total de cada trabalhado­r passaria para 14%. Hoje, os empregador­es e o Estado não têm participaç­ão no benefício.

Para João Badari, do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados, esse sistema de capitaliza­ção no Brasil é inviável. O principal motivo, segundo ele, é pela falta de hábito da população em poupar para colher frutos no longo prazo.

Badari destaca ainda que o regime que o governo quer implantar tem dois erros graves. “No curto prazo, esse modelo (capitaliza­ção) retira totalmente a receita do sistema previdenci­ário, que não terá recursos para bancar as aposentado­rias gerando um déficit maior que o já existente”, aponta. “No longo prazo, esse sistema terá reflexos ainda mais negativos: a população vai precisar da ajuda do governo para sobreviver porque a renda a ser alcançada não vai permitir que se viva com um mínimo de dignidade”, adverte.

“A crise financeira enfrentada pela população idosa no Chile por causa desse sistema de aposentado­ria tem elevado o número de suicídios entre as pessoas com mais de 70 anos de idade”, lamenta o advogado.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil