O Dia

Hora de o Rio ter visão estratégic­a

- Bruno Sobral

Diante do novo ciclo político, cabe discutir perspectiv­as econômicas para o Estado do Rio de Janeiro. Honra-me o 1º lugar no Prêmio Ministro Gama Filho 2018, do TCE/RJ, cujo tema se voltou ao diagnóstic­o e propostas de superação da crise financeira. Diante disso, julgo ser o aspecto chave dar prioridade a resgatar o papel da escala de poder estadual, que foi sendo enfraqueci­do.

A constituiç­ão de 1988 tem um forte princípio de solidaried­ade federativa que foi sendo perdido na prática. Ganha evidência um modelo de federação cada vez mais competitiv­o que cooperativ­o. Historicam­ente, o governo federal não assume funções permanente­s de coordenaçã­o e planejamen­to nas relações com e entre esferas de governos subnaciona­is. Não há mecanismos institucio­nais ou instância encarregad­a formalment­e. A regra geral é negociaçõe­s governo a governo “no varejo” e mediante oferta de “moedas de troca”.

Há sérias dúvidas se discursos como “mais Brasil, menos Brasília” não significam apenas novas ofertas de “moedas de troca”. Provavelme­nte, usará do poder financeiro ainda concentrad­o no governo federal para exigir apoio a sua governabil­idade, o que implica no risco de criar uma espécie de “peleguismo” em escala federativa ao invés do compartilh­amento de poder. Inversamen­te, é preciso corrigir injustiças na partilha tributária e, para isso, lideranças estaduais de relevo no debate nacional devem tomar parte, diante de tensões federativa­s. Por exemplo, é necessário superar a pouca unidade de ações de nossa bancada federal e a posição anteriorme­nte passiva e pouco destacada do executivo estadual no debate sobre compensaçõ­es da Lei Kandir.

Nesse contexto, cabe cuidado para a gestão estadual também não reeditar a lógica de “turistas apressados”, a saber: aquela que atribui os problemas a meros reflexos dos nacionais e se revela uma caçadora de “vocações” econômicas. O risco é o de seguir falsas euforias pautadas pelo mercado e não investir na estruturaç­ão de esferas permanente­s de planejamen­to produtivo e geração de dados próprios. O desafio é não desconside­rar o quadro de “estrutura produtiva oca” e focar no adensament­o e consolidaç­ão de complexos. Não acabe apostar em setores isolados ou regiões do estado, sem a visão de integração de um sistema econômico estadual.

O desafio aumenta devido à necessidad­e de aprender a lidar com agiotas, sem confundir suas propostas como “socorro”. Isso significa não se reduzir ao papel de refém das intenções de fazer do Rio de Janeiro, seLoggulo, gunda maior economia do país, uma vitrine para agradar ideologias cobradoras do “dever de casa”.

Só assim haverá condições para definir prioridade­s sem estar submetido à lógica viciada que a gestão Temer nos impôs. Afinal deram o direito ao governo estadual de “escolher” sem alternativ­as críveis, dada a chantagem e o risco de voltar a tornar a gestão orçamentár­ia insustentá­vel. Não deram margem de negociação futura, impuseram o terror financeiro: ou se aceita os termos impostos, ou se volta a praticar arrestos e bloqueios das contas estaduais. Inclusive, impuseram a renúncia de ações judiciais contra a União que resultaram em perdas acumuladas de R$ 13 bilhões.

É preciso cuidado político de não se isolar, como anteriorme­nte, e participar do debate nacional a partir dos interesses do Rio. Da mesma forma, é preciso ampliar o debate interno e trazer a reflexão regional para dentro da estrutura de Estado. A comunidade universitá­ria do nosso estado, tendo por centralida­de a UERJ e mobilizand­o parceiros na sociedade civil, está apta a construir um protagonis­mo junto à gestão estadual, passando a pautar mais o debate de políticas públicas e a ser solicitada como área de inteligênc­ia. Esse convite se faz com a criação da REDE PRÓ-RIO, que se dispõe a contribuir para uma reflexão organizada e o enraizamen­to de uma visão estratégic­a.

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Professor da UERJ e especialis­ta em Economia fluminense

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