Procurador teria lucrado com fama da Lava Jato
Segundo mensagens, Dallagnol discutiu criar empresa para arrecadar com palestras
Oprocurador Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato, teria criado uma estratégia para lucrar com a fama obtida durante as investigações do caso de corrupção. Em chat no fim do ano passado e divulgado pelo site The Intercept em parceria com a Folha de S. Paulo, Deltan e um colega da força-tarefa aparecem discutindo sobre a criação de uma empresa para dar palestras, onde seriam sócios, para evitar questionamentos legais e críticas.
A justificativa foi apresentada por Deltan em um diálogo com a mulher dele. “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”, escreveu. Os procuradores consideraram, ainda, uma estratégia para criar um instituto e obter cachês graúdos. “Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários”, comentou Deltan, no grupo com o outro integrante da Lava Jato.
Eles também discutiram parcerias com uma firma organizadora de formaturas e outras duas empresas. A lei proíbe que procuradores gerenciem empresas e permite que essas autoridades apenas
sejam sócios ou acionistas de companhias. Os diálogos examinados pela Folha e pelo The Intercept indicam que Deltan ocupou os serviços de duas funcionárias da Procuradoria em Curitiba para organizar sua atividade pessoal de palestrante durante a Lava Jato.
CONVITE A MORO
As mensagens mostram ainda que o procurador incentivava outras autoridades ligadas ao caso a dar palestras remuneradas. Entre eles, o ex-juiz e atual ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro. Em abril de 2017, Dallagnol antecipou um convite a Moro para participar de um evento em São Paulo. “Caro, o Edilson Mougenot (fundador da Escola de Altos Estudos em Ciências Criminais) vai te convidar nesta semana pra um curso interessante em agosto. Eles pagam para o palestrante 3 mil”, escreveu Deltan a Moro.
Em um primeiro momento, Moro disse que já estava com a agenda cheia. Mas depois aceitou o convite e participou com Deltan do 1º Congresso Brasileiro da Escola de Altos Estudos Criminais em São Paulo, no dia 26 de agosto de 2017.