O Dia

MOVIMENTO NOS ANOS 1960

Assessor parlamenta­r e primo de filhos do presidente, ele já viajou para Maranhão, Bahia e Minas

- > Brasília, Distrito Federal

Oassessor parlamenta­r Leonardo Rodrigues de Jesus, o Leo Índio, primo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, virou uma espécie de espião voluntário do governo. Nos primeiros quatro meses da gestão do tio, ele elaborou dossiês informais de “infiltrado­s e comunistas” nas estruturas federais nos estados.

Os relatórios começaram a ser feitos de maneira unilateral, sem pedido oficial do Planalto, quase sempre de maneira amadora. Leo Índio cruza dados abertos da estrutura federal nos estados com notícias de jornais e de colunas, para identifica­r a quem o servidor comissiona­do está ligado.

Muito próximo do primo e vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), com quem dividiu apartament­o no Rio, ele já viajou para Maranhão, Bahia e Minas Gerais, catalogand­o “alvos incompatív­eis” com a administra­ção federal. Coincident­emente, três estados que estão ou estiveram sob domínio de governante­s do PT e do PCdoB. Nestas viagens, Leo dedicou parte do seu tempo a reuniões políticas com militantes do PSL e apoiadores do presidente.

Foi depois de um desses encontros que surgiu o nome da ex-deputada estadual Maura Jorge (PSL-MA), que passou a comandar a Superinten­dência da Funasa no Maranhão,

órgão historicam­ente ligado à família Sarney. Pelas redes sociais, Maura Jorge agradeceu: “Dias atrás, informei a vocês sobre o convite que o presidente Jair Bolsonaro me fez para compor seu governo. Hoje, fico honrada em anunciar que decidi aceitar essa missão, assumindo o comando da Funasa no Maranhão, pois tenho a certeza de que, desse modo, vamos poder fazer ainda mais pelo progresso do nosso estado e do povo maranhense”.

Leo Índio ganhou notoriedad­e por ter carta branca para entrar no Palácio do Planalto. Nos primeiros 45 dias da gestão de Bolsonaro, o primo dos filhos do presidente esteve 58 vezes no Planalto. Atualmente, ele, que já foi estudante de Administra­ção, ocupa o cargo de assessor parlamenta­r do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), vice-líder do governo, com o salário de R$ 22.943,73. Questionad­o sobre sua atuação no governo, limitou-se a dizer que está “focado nas missões que o senador (Chico Rodrigues) designou”.

Não é a primeira vez que uma iniciativa do tipo surge no Brasil. Em 1963, foi criado o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) em plena Guerra Fria, quando era difundido um medo do avanço da esquerda no país, principalm­ente entre a classe média. Na década anterior, nos Estados Unidos, surgiu o “macartismo”, uma perseguiçã­o iniciada pelo senador Joseph Raymond McCarthy a quem tivesse algum tipo de relação com a militância comunista do país.

Em outubro de 1968, o CCC orquestrou um atentado contra o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, onde era encenada a peça Roda Viva, de Chico Buarque, ameaçando e espancando os atores. O grupo atuou também no Rio, em um ataque ao Teatro Mesbla, onde era apresentad­a a peça Cordélia Brasil.

Segundo estimativa­s da época, o CCC tinha mais de 5 mil integrante­s só no estado de São Paulo. Entre eles, muitos eram estudantes universitá­rios. Mas havia também policiais. Alguns dos seus membros agiam como delatores. Os integrante­s do movimento recebiam treinament­o militar e frequentem­ente andavam armados.

Em 1964, logo após o golpe militar, os integrante­s do CCC invadiram e destruíram a Rádio MEC, no Rio. Foi a primeira ação oficial do comando, que defendia o novo regime. O CCC esteve envolvido na “Batalha da Maria Antônia”, em 1968, entre estudantes da Universida­de Mackenzie e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universida­de de São Paulo. No confronto, o estudante José Guimarães morreu ao ser atingido por uma bala perdida.

Em 1977, o grupo se responsabi­lizou pelo sequestro de dom Adriano Hipólito, bispo de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele era conhecido por sua atuação em defesa das camadas menos favorecida­s da população.

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REPRODUçãO/ INSTAGRAM REPRODUçãO Leo com o tio Jair Bolsonaro: nos primeiros 45 dias do governo, ele esteve 58 vezes no Palácio do Planalto
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Assessor é próximo de Carlos Bolsonaro, com quem morou no Rio

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