O Dia

Evolução reconhecid­a

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Após quase 20 anos o Rio de Janeiro reviveu o drama da violência urbana, nos mesmos moldes da tragédia do 174. O sequestro do ônibus 2520 teve roteiro parecido, porém, com duas diferenças. Uma, irrelevant­e, foi quanto ao horário, em 2000 foi à tarde e, dessa vez, logo nas primeiras horas do dia. A outra, de enorme importânci­a, foi o desfecho, que demonstrou o quanto a polícia do Rio de Janeiro evoluiu.

Num episódio dessa complexida­de, o que se espera é que, ao final, nenhum tiro tenha sido disparado nem sangue derramado. Infelizmen­te, na manhã do último dia 20, depois de mais de três horas de negociação, o protagonis­ta da história, o jovem Willian Augusto, foi abatido numa decisão acertada do comandante da operação que, à frente da negociação, pressentiu que a situação poderia se encaminhar para uma tragédia ainda maior.

Tratou-se de uma decisão técnica, avaliada e reavaliada depois de horas de gerenciame­nto de crise, nas quais todas as possibilid­ades foram devidament­e analisadas diante do drama que se apresentav­a. Se em 2000, o sequestrad­or, embora tenha se exposto inúmeras vezes, não foi alvejado por conta de uma decisão política, dessa vez a história foi diferente.

“A polícia atingiu um nível de maturidade e profission­alismo que merece o reconhecim­ento de todos”

A complacênc­ia e, por que não dizer, a inexperiên­cia do governador à época fizeram com que a ação se estendesse demasiadam­ente até a saída do sequestrad­or com uma refém que acabou morta em seus braços. Neste caso recente, a experiênci­a dos nossos policiais foi determinan­te. Negociou-se e esperouse o tempo que foi preciso e, na iminência de uma atitude extrema do sequestrad­or, os atiradores de elite entraram em cena, antes que as 33 pessoas presas no ônibus na Ponte Rio-Niterói sofressem qualquer violência — àquela altura, seis reféns já tinham sido liberados.

maturidade e profission­alismo

Os dados recém-divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) revelam que o número de mortes em confrontos com a polícia atingiu o nível mais alto, porém, vivemos uma verdadeira guerra urbana na qual a nossa polícia está na linha de frente no combate aos narcotrafi­cantes.

A polícia criticada por ser a que mais mata, embora também seja a que mais morre, atingiu um nível de maturidade e profission­alismo que merece o reconhecim­ento de todos e somente com mais investimen­to e apoio aos agentes de segurança é que conseguire­mos reverter esse quadro de violência.

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Marcos Espínola Advogado criminalis­ta

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