A VIDA SE JUSTIFICA NA AÇÃO
Na carruagem, o príncipe Arjuna se preparava para a batalha. Ele e seus irmãos, os Pandavas, tinham pela frente os usurpadores do trono - seus primos, os Karauva. Arjuna tinha motivos para querer vingança. Entre outras torpezas, sua mulher tinha sido humilhada publicamente, obrigada a desfilar nua na cidade tomada pelos vilões. Sob o sol, milhares de guerreiros se perfilavam dos dois lados, esperando a ordem do ataque.
Arjuna viu então, ao longe, seu avô Bishma, bem como familiares e ex-amigos, todos no campo adversário. E fez algo inesperado. Com a boca seca e os joelhos tremendo, ele se dirigiu à linha que dividia seu exército dos inimigos, caiu de joelhos e jogou seu arco no chão. Aos prantos, desabafou com seu melhor amigo, que conduzia a carruagem: Não consigo! Que valor tem a vitória se os que amamos serão mortos? Nossos ganhos estarão manchados de sangue. O triunfo não é certo, mas nesse caso ele nem ao menos é desejável. Como poderei viver depois de trucidar meus parentes?
A história é narrada no livro sagrado da Índia, o Baghavad Gita. E o amigo e conselheiro de Arjuna era ninguém menos do que Khrisna, a versão
hindu da Suprema Personalidade de Deus. Diante das dúvidas de Arjuna, o que respondeu Khrisna? Levanta e luta. O dever de um soldado é combater, e combater bem. Se você desistir vai cometer um crime contra a sua honra, seu dever e seu povo. Portanto, ao combate!
Surpreso, Arjuna pergunta: o que aconteceu com seus antigos conselhos, como “amai-vos uns ao outros” e “perdoa teus irmãos?”
No diálogo, Krishna aconselha Arjuna não somente a lutar, mas a fazer isso sem apego às pessoas ou ao resultado do embate. Ele insiste para que o jovem guerreiro veja as coisas como elas são — e não como gostaria que fossem. Seus primos eram torpes. Seu avô, omisso. Seus tios e amigos eram coniventes e acomodados. Arjuna devia lutar porque este era seu dever, a coisa certa a se fazer depois de todo o sofrimento que os Kauravas causaram — o resultado? Isso não era com ele. Era com Khrisna.
Escrito em sânscrito, por volta do século 4 A.C., o Baghavad Gita não podia ser mais atual. A vida se justifica na ação. Sim, quando você age pode errar, vacilar, perder ou até mesmo, quem sabe, obter o que deseja. Mas quem não age não merece o maior presente que recebeu, a própria vida. Khrisna também aconselha a olhar as coisas como elas são, e não como queremos. Nem sempre é fácil, né?
Como saber o que é certo? No fundo, você sabe… Mas se não tiver certeza, repare: nunca é o atalho, a trilha mais fácil. E, principalmente, não é o caminho em que só você se dá bem. O bem coletivo está acima do pessoal. E quem faz o bem para os outros é recompensado por isso. Pode ser seu funcionário, cliente, parente ou amigo.
Empreender é deixar o medo de lado e agir. Fazer o melhor que puder.
Mas você pode estar curioso. Afinal de contas, o que Arjuna fez? Acatou o conselho de Khrisna e enfrentou os inimigos, ou se acovardou? Desculpe, mas ainda não se sabe o final da batalha. Ela acontece agora, dentro de você. De cada um de nós.