LEITURA NAS ESCOLAS EM XEQUE
A menos de seis meses para que todas as escolas do Estado do Rio tenham bibliotecas, 73% das unidades não possuem o equipamento
No Colégio Estadual Agripino Grieco, no Engenho de Dentro, os poucos mais de 200 alunos do Ensino Médio não contam com uma biblioteca e nem mesmo com uma sala de leitura. Estudante do 2º ano, Daphne Marques, de 16 anos, assim como outros colegas da escola, revela que quando precisa da ajuda de livros, recorre à internet, que também não é disponibilizada para os estudantes da unidade. A mesma realidade é constatada em 73% dos colégios — públicos e privados — do Estado do Rio, que não possuem bibliotecas.
A carência de bibliotecas nas escolas ocorre a menos de seis meses para que todas as unidades de educação bá
sica — ensinos infantil, fundamental e médio — do Rio, públicas e privadas, passem a contar com acervo de pelo menos um livro por aluno matriculado e um bibliotecário responsável. É o que determina a Lei 7383/2016, dos deputados Waldeck Carneiro (PT) e Flávio Serafini (Psol), que obriga a instalação do equipamento até 2020.
De acordo com dados do Censo Escolar de 2018, pesquisa realizada anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revela que 51,2% das escolas brasileiras têm bibliotecas. O levantamento mostra ainda uma diferença entre os colégios públicos e privados. Na rede pública, apenas 45,7% das unidades têm bibliotecas. No caso das particulares, o índice é de 70,3%.
“A biblioteca faz muita falta. Em algumas salas, há prateleiras com uns livros jogados. É lamentável. Quando preciso ler algum livro, procuro na internet. A falta de uma biblioteca na escola vai fazer diferença quando eu prestar vestibular”, comentou Daphne.
No Brasil, 51,2% das escolas contam com bibliotecas, que ajudam na formação cultural dos jovens
Estudante do 3º ano, também do Colégio Agripino Grieco, Vitor de Souza, de 19 anos, gosta de ler livros. Ele conta que, há um mês, terminou a leitura do título ‘A Menina que Roubava Livros’. “Tenho alguns livros meus em casa, mas acho que uma biblioteca deveria fazer parte da escola”, disse. A leitura, no entanto, não é uma unanimidade. Também aluna do 3º ano, Elizamara Moreira, de 17 anos, acredita que a biblioteca não faz falta na sua escola e nem na vida dela. “Não sinto falta, o telefone ocupa muito o meu tempo. Não gosto e nem tenho o costume de ler livros”, comentou.
Para o deputado Waldeck Carneiro, a presença das bibliotecas nas escolas é importante para a formação cultural de crianças e jovens. “É um espaço central no processo pedagógico, que deve interagir de forma dinâmica com os profissionais de educação, professores, pedagogos e com toda a comunidade escolar que deve ter na sua biblioteca uma referência cultural permanente”, argumentou o parlamentar. Ainda de acordo com Carneiro, as escolas com melhor desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) têm como característica comum a presença de bibliotecas em suas unidades.
O coordenador do Núcleo de Inteligência do Todos pela Educação, Caio Sato, reforça a ideia de que a biblioteca é um espaço simbólico da educação. “No país, existe claramente uma falta de infraestrutura nas escolas e a biblioteca está incluída. Isso acontece, principalmente, nos municípios mais distantes e pobres. Essa é uma primeira sinalização de que, também na educação, há um reflexo de desigualdade forte”, avaliou.
Quanto a falta de interesse de alguns jovens pela leitura, a psicóloga Andreia Dumas, que faz atendimento psicoterápico para crianças, adolescentes e adultos, acredita que a falta de estímulo dos pais, aliada ao avanço da tecnologia, com jovens muito ocupados nas redes sociais, contribuem para que o número de leitores caia cada vez mais. “Para atrair mais os jovens, essas bibliotecas precisam ser mais interativas”, argumentou.