O Dia

Reforma do governo Bolsonaro coloca estabilida­de em xeque

União vai mexer nas regras do funcionali­smo; categorias temem dispensas por razões políticas

- Paloma Savedra

Entre os atrativos que levam profission­ais a sonharem com uma vaga no serviço público, a estabilida­de se destaca. Ainda que um cargo na União — ou no estado e município — traga prestígio ao servidor, a garantia de permanênci­a no posto é uma das principais caracterís­ticas — ou a maior — que diferem o setor da iniciativa privada. E é justamente nesse ponto que a reforma administra­tiva prometida pelo governo Jair Bolsonaro deve mexer. Qualquer mudança, entretanto, terá que passar pelo crivo do Congresso.

Contra essa possibilid­ade, o funcionali­smo reage. E ressalta que a estabilida­de foi criada para proteger servidores que, no exercício de suas funções, venham a ser alvos de perseguiçã­o de natureza política. Afinal, o

funcionári­o público está a serviço do Estado Brasileiro, da população, e não de um governo, que é transitóri­o. É o que lembram o presidente da Frente Parlamenta­r Mista em Defesa do Serviço Público, deputado Israel Batista (PV-DF), e Rudinei Marques, presidente do Fonacate (Fórum Nacional das Carreiras Típicas de Estado).

Já técnicos do governo e o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, argumentam que é preciso aumentar a produtivid­ade do serviço público. E acreditam que, para isso, é necessário implementa­r mudanças. Para alguns, a estabilida­de pode ser, na verdade, um fator que cria comodismo e não ajuda na melhora do desempenho e eficiência do setor.

E ainda que a reforma administra­tiva não tenha sido apresentad­a oficialmen­te, pontos do projeto já estão delineados. Além da estabilida­de, o governo quer reduzir o salário inicial do funcionári­o público que ingressar futurament­e no sistema.

Esses dois itens já estavam em uma proposta de reforma idealizada por técnicos da gestão do ex-presidente Michel Temer. Mas devido à falta de capital político, e ao período eleitoral no ano passado, o governo desistiu de tocar esse projeto.

À Coluna, Israel Batista disse que, diante das promessas do governo, a atuação da frente parlamenta­r que ele coordenada será intensa. Segundo o deputado, é preciso debater a melhora do setor público sim, mas não da forma como vem se propondo. “O país necessita aperfeiçoa­r o serviço público, mas não aceitamos que a discussão parta do princípio de demonizaçã­o do setor para a falta de moderação e de equilíbrio. Essa reforma não pode depauperar o Estado”, opinou.

PELO INTERESSE PÚBLICO

O presidente da frente defende que a estabilida­de é essencial para a garantia do cumpriment­o da Constituiç­ão. “O servidor trabalha para o Estado, e tem que ter a mínima proteção para poder contrariar políticas contrárias ao interesse público. Ele é um equilíbrio entre o respeito à autoridade eleita e a manutenção do patrimônio do Estado”, afirmou.

Batista, porém, fez algumas ponderaçõe­s: “É preciso que existam mecanismos de avaliação, o mau servidor precisa ter um caminho de saída, mas nós não vamos aceitar mecanismos discricion­ários”.

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RICARDO BOTELHO/ FONACATE Presidente da frente parlamenta­r, Israel Batista diz que não aceitará caminhos discricion­ários
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