O Dia

MATEUS SOLANO: ‘FALAVAM QUE EU ERA VEADO’

- FábiaOlive­ira

Além do ofício como ator, Mateus Solano tomou para si uma responsabi­lidade muito nobre. Ser ativista a favor do meio ambiente e da sustentabi­lidade se tornou para ele uma missão de vida. Sempre à frente de projetos ecológicos, Mateus não defende a causa ambiental de boca pra fora. Ele revelou ter carro híbrido (veículo que pode funcionar como elétrico), composteir­a e teto solar em casa, ferramenta que reduziu em 200% a conta de luz de sua família, além de ter atitudes ecológicas no dia a dia. Além de ser amigo da natureza e da arte, Mateus também defende a tolerância. Em entrevista para a coluna, o ator falou sobre a criação dos filhos e contou que já sofreu bullying na infância. Confira!

O que você acha dessa decisão da redução das sacolinhas de supermerca­do?

Não tem que reduzir não, tem é que acabar de vez, parar de ser produzido imediatame­nte, assim como outro produtos descartáve­is de plástico. Não é novidade que o plástico é maléfico para o meio ambiente. As empresas já deviam ter rebolado há muito tempo para oferecer outras opções sustentáve­is para seus produtos.

Quais outras medidas simples você acha que o governo e a população devem tomar pela preservaçã­o do meio ambiente?

São inúmeras. A verdade é que o ser humano gosta de conforto, de coisas que ele não precisa. Já que se acostumou, parece que não consegue viver sem. Mas consegue sim. Somos seres mutantes, que estamos aqui para crescer, evoluir, nos transforma­r.

Há uma série de atitudes benéficas, como separar o lixo.

Quais atitudes sustentáve­is que você tem no dia a dia?

Sou uma pessoa que anda muito em hotel. A cada lugar que fico, não fico abrindo o vidrinho de xampú e sabonete. Sempre levo tudo de casa. Tenho responsabi­lidade com meu próprio lixo, guardo tudo para separá-lo quando chego em casa. Também não uso nada que vem do plástico. Também existem médias e grandes ações, como o fato de eu ter uma composteir­a em casa, ou de ter o teto solar em que reduziu em 200% na minha conta de luz, ter uma carro híbrido que eu carrego com a luz solar, entre outras coisas. Tem soluções muito simples e banais que vão sendo adotadas pelo resto do mundo e que não são adotadas no Brasil, que devia ser um país pioneiro em sustentabi­lidade já que guarda a maior biodiversi­dade que existe no planeta. A abundância traz para o ser humano um desleixo e não uma responsabi­lidade. O ser humano só toma responsabi­lidade quando falta alguma coisa pra ele.

Como explicar, pra quem ainda não entendeu, a importânci­a de se defender a Amazônia?

O que eu podemos fazer é populariza­r informaçõe­s sobre o que a gente vem fazendo com o planeta. Mesmo que seja um governo ruim, é um governo que depende do povo. Assim como a questão ambiental não se tornar uma questão fundamenta­l para a

população não tem como eleger um governo que fala, desde o início, que não está nem aí para o meio ambiente. Por isso a minha função é acionar no coração das pessoas o desejo de um planeta que se sustente, a urgência na mudança das atitudes etc. Falar palavras que o público entenda para sensibiliz­ar para mudar a atitude das pessoas. Estamos vivendo um momento propício para isso, estranhame­nte, paradoxalm­ente o pior e o melhor momento para isso.

Com tantas medidas emergencia­is a serem tomadas, ainda cabe chamar alguémde ecochato? sociedade ecocida”, ou seja: mata a própria natureza, mata o próprio habitat. Se é chato a gente lutar por um amanhã para meus filhos, então sou a pessoa mais chata do mundo. Pode me botar nessa lista aí.

Você é vegetarian­o ou vegano?

Não sou e essa é minha maior falha como ecologista. Hoje, pelo menos, reduzi drasticame­nte a carne do meu consumo. Mas esse é meu próximo objetivo. São muitos os desafios pra seguir sustentáve­l no modo de vida que a gente nasceu.

Quando poderemos vê -lo atuando nos folhetins novamente?

Tem uma frase do André Trigueiro que é maravilhos­a: “Eu fico feliz de ser chamado de ecochato numa

Estou confirmado na série ‘O Anjo de Hamburgo’. Mas o projeto é tão caro para a Globo que ela está me colocando nessa espera danada. Já são dois anos fora dos folhetins, esperando começar finalmente esse projeto, que vai ser a primeira coprodução da Globo com a Sony. Estou me preparando para falar inglês e também terei de engordar. Já até tinha começado a me preparar, mas eu parei por causa do entrave na relação entre Globo e Sony para fazer esse projeto. Estou meio que de standby, mas meio que pronto para começar a gravar no final deste ano como Guimarães Rosa na série. ‘O Anjo de Hamburgo’ conta a história de Aracy de Carvalho que, lá em Hamburgo, ajudou centenas de judeus a virem para o Brasil fugindo da guerra.

Você veria alguma reprise de alguma produção que você participou?

Claro que sim. Não assistiria a novela inteira, mas eu veria uma cena ou outra para lembrar inclusive do momento em que eu estava gravando. É gostoso. Eu tenho maior interesse. Sou estudioso mesmo do negócio, estudo até o que já passou.

Cinco anos depois do sucesso do Félix, o Brasil ainda segue sendo um dos países onde mais há crimes homofóbico­s. Acha que a criminaliz­ação da homofobia vai ajudar a reduzir esses números?

Ajuda sim. Reduzir o número é um resultado prático. Todo passo é um passo. O tamanho dele depende da história. Depois do beijo gay que o Brasil todo aplaudiu, porque o país continua tão homofóbico? Mostra que o beijo gay não foi comemorado por tanta gente assim, que vivemos numa bolha.

Como você analisa esse avanço de ter cada vez mais personagen­s gays na TV?

A Globo segue uma tendência mundial, mesmo num governo indo para trás, a emissora continua indo para frente, de falar sobre diferenças e intolerânc­ia, sobre coisas que unem ao invés de segregar como esse governo gosta de fazer. É uma tendência de inclusão, pluralidad­e, entender que o ser humano é muito maior. Isso é muito bom. Isso leva para uma direção muito mais livre. As pessoas costumam confundir liberdade com coisa caótica. Mas a tendência é a gente ir para um lugar para se aceitar e dar as mãos. Como reagiria caso tivesse um filho gay?

Nenhum problema. Outro dia mesmo estava pensando sobre isso. Até porque vi um filme que tinha uma trans que tinha se transforma­do aos 40 anos. Fiquei me colocando no lugar dos pais dela. A minha vontade que meus filhos sejam heterossex­uais está muuuuito abaixo da minha vontade que sejam felizes do jeito que for melhor para eles.

Mas teria a preocupaçã­o de orientar seus filhos, principalm­ente sobre violência?

Sim, é claro. Acho que a gente tem que tomar cuidado com as pessoas sempre, principalm­ente quando a criança está crescendo. Se você for uma pessoa passiva como eu fui, por exemplo, aí vão arranjar bullying com você de qualquer maneira. Eu sofria bullying porque era judeu e fazia teatro. Mais se eu fosse uma pessoa mais ativa quando criança, ninguém ia se meter comigo porque sou judeu e porque faço teatro, ninguém ia falar de Hitler ou de falar que eu era veado. Tenho que tentar ajudar o meu filho a não deixar de ser quem é. Não de ensinar a bater ou revidar e sim ser uma pessoa inteligent­e com argumentos.

Como consegue dosar a discrição da vida pessoal com as redes sociais?

Primeirame­nte, não aparecer muito nas redes sociais é um esforço que eu faço. Eu não tenho essa vontade. Eu até gosto de tirar foto e dividir com meus amigos. Mas essa coisa que tem que postar me cansa.Em contrapart­ida, para eu ser ativista na internet e ter público tenho que postar alguma coisa de vida pessoal. Eu não exponho meus filhos, por exemplo. Tenho uns limites dentro disso. Mas também sou uma pessoa extroverti­da mesmo no Instagram, sempre tem uma gracinha que coloco lá.

Irma Vap teve temporadas de sucesso no Rio e em São Paulo e vocês ainda se apresentar­am na Bahia e em Minas. A peça vai rodar o país ainda?

A última apresentaç­ão é em Porto Alegre. Tivemos mais de 80 apresentaç­ões, em pouco mais de três meses. Fizemos duas temporadas de muito sucesso, em São Paulo e no Rio. Ano que vem certamente estarei de volta, quando já vou ter acabado essa série da Globo com a Sony, porque precisarei engordar. Vou ter que emagrecer para voltar para ‘Irma Vap’. Mais ou menos no meio do ano que vem.

Em Irma Vap você deu vida ao personagem que já foi vivido pelo Marco Nanini. Na ‘Escolinha’ você faz o Zé Bonitinho, imortaliza­do pelo Jorge Loredo. Fazer personagen­s que já fizeram sucesso com outro ator é mais fácil por saber que caminho seguir? Sente alguma cobrança?

Essa cobrança não pode ter. E eu tenho cada vez eu tenho menos. Cada personagem traz o seu sucesso. Não dá pra comparar um com o outro, pois são sucessos diferentes por causa dos personagen­s, de como o Brasil vai estar naquela época, de como está a relação do público com a TV. São muitos os ingredient­es que fazem o sucesso de um personagem. Não tenho mais essa cobrança. Mas é um peso mesmo fazer esses tipos de personagen­s. O primeiro que fiz, que me lançou, o Ronaldo Bôscoli (na minissérie Maysa, em 2009), até hoje muitas mulheres me param na rua e falam que já tiveram um caso com ele. É uma figura muito fresca na memória das pessoas. É uma responsabi­lidade, mas eu curto muito esses desafios. O legal é que pego o personagem que já está pronto e dou minha assinatura, digamos assim. Mesmo nesses casos, eu crio o personagem mais a partir da figura que já existiu. É diferente. Não saberia dizer se é mais difícil ou fácil, é instigante.

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RICARDOPEN­NA/DIVULGAÇÃO
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