O ARTIFÍCIO DO MILHO
Seu corpo havia sido cortado em alguns pedaços. O corpo de dentro sofrera dores que ele nem sabia de onde vinham. Mesmo assim continuava a dar comida aos pombos toda tarde na pracinha do bairro. Ali ele se sentia inteiro. Suas partes se recompunham como que por um milagre.
A natureza é mágica e faz coisas inacreditáveis. Lá, rodeado de pássaros, ele se via entre amigos, pleno, robustecido, revigorado para mais uma etapa de reconhecimento e limpeza interior.
Aprendera que a vida tem segredos que só revela a quem está em sintonia com ela. Então, o que parecia sólido, pode se dissolver; e o que parece cinzas renasce.
O intelecto pode muito, mas não pode tudo. E mesmo esse muito é pouco, comparado com a intuição. Foi esta que lhe salvara a vida muitas vezes e o colocara de novo no solo firme da esperança.
Esperança é sonho. O Criador imagina seu mundo antes de criá-lo. Somos sonhos do Criador, em busca de construir nossa realidade.
Nunca estamos sós. Basta olharmos em volta ou para dentro para percebermos nossas companhias. Não importa se são pessoas, pássaros ou lembranças.
Sempre há uma saída. A que ele achara era dar milho aos pombos. O ato de dar algo é poderoso, recompõe nossas feridas, junta nossos pedaços, celebra a vida.
Não pretender ser o que não somos. Já somos tudo. Basta nos recompormos. Não temamos. Vamos!