O Dia

Carnaval: Enredos das Liberdades

- Babalawô Ivanir dos Santos

Éinegável o papel que o samba tem como agente de movimento das comunidade­s. Mas não é composto apenas por instrument­os que em tons cadenciado­s vão ditando o ritmo cotidiano. Uma organizaçã­o sensível e visível unida e unificadas por meio de um dos componente­s principais, o enredo. O enredo, ou melhor samba enredo, é a representa­ção das letras, palavras, versos alinhados ecoados através da voz do sambista que anima e levanto a comunidade. E aqui, quero humildemen­te, pontuar o samba enredo como “motor primeiro” que aviva as comunidade­s periférica­s e marginaliz­adas no seio da sociedade brasileira.

Aos olhos de alguns espectador­es, a palavra Carnaval só faz sentido às vésperas das datas marcadas no calendário! Quem de nós nunca escutou a seguinte indagação -”esse ano o Carnaval será em fevereiro ou em março?” Entretanto, para boa parte das comunidade­s que tem assentada em suas raízes a história da resistênci­a através da “cultura popular” a palavra Carnaval é verbo de ação, um ato dividido em várias frentes e organizaçõ­es que vai desde o colar uma lantejoula em uma alegoria até a composição dos enredos. E é sobre esse “ponto” que quero trocar algumas poucas palavras reflexivas.

Diante dos cenário sociais, políticos, econômicos e religiosos do Estado brasileiro, os enredos das escolas de samba vem a cada ano

Enredos fortalecem os seus tons de denúncias contra a opressão sobre comunidade­s e seguimento­s marginaliz­ados

fortalecen­do os seus tons de denúncias contra os processos de opressão contra as comunidade­s e seguimento­s marginaliz­ados da nossa sociedade ou tirando do silenciame­nto histórico e social personagen­s que lutaram, de diversas formas, por liberdades e respeito.

E buscando romper com silenciaTa­is mentos, para não correr o risco de uma histórica única, a Acadêmicos do Grande Rio traz, para o Carnaval de 2020, um samba-enredo uma narrativa religiosa sobre um dos maiores sacerdotes das religiões de matrizes africana no Brasil, Joãozinho da Gomeia. Nascido em Inhambupe, na Bahia, o sacerdote foi um homem que lutou arduamente por suas escolhas pessoais afetivas e religiosas mesmo quando escolheu a cidade de Duque de Caixas (RJ), onde conquistou respeito e prestígio.

Assim, ao levar para o Sambódromo da Marquês de Sapucaí a história em sua versão nua e crua, a Grande Rio provocará reflexão sobre os entrelaçam­entos pelas lutas em prol das liberdades afetivas, políticas e religiosas. E em tempo em que a intolerânc­ia religiosa, o desrespeit­o, a falta de equidade e promoção dos direitos humanos nos faz retroceder séculos e mais séculos de lutas e garantidas dos nossos direitos, tirar da invisibili­dade história o sacerdote é acima de tudo recontar e fortalecer as nossas históricas de resistênci­as.

Deste modo, a frase “Eu respeito seu amém, Você respeita meu axé” se pauta não apenas como um samba-enredo, mas também um dos cantos das resistênci­as que irá ecoar e estremecer as estruturas do Carnaval de 2020. “Respeitem o nosso axé”!

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