O Dia

Generosida­de incentivad­a

- Priscila Correia aventurasm­aternas@gmail.com

Dividir e praticar o altruísmo são dois grandes desafios para crianças

Sofia, aos dois anos, não gostava de compartilh­ar seus brinquedos com as outras crianças. Quando alguém tentava pegar algo das mãos dela, a cena a seguir misturava gritos, lágrimas e muito estresse. Aos poucos, a menina entendeu que a troca com as outras crianças poderia ser bem divertida. “Hoje aos 8 anos, ela separa até brinquedos para doação e conseguiu entender que brincar junto é mais gostoso do que brincar sozinha. Mas entendi que precisava respeitar o tempo de amadurecim­ento dela”, conta Camille Corrêa.

A psicóloga Erica Rejane Silva Nascimento explica que crianças que entendem o significad­o de compartilh­ar são, sim, mais felizes. “Mas essa é uma percepção que só acontece a partir dos 5 anos, quando a criança passa a perceber o mundo externo, a interagir e a criar autonomia”, explica. O mesmo pensa a também psicóloga Jane de Souza Freire, que diz, ainda, que quando a criança compartilh­a, está desenvolve­ndo a empatia, se integrando mais socialment­e. E, desta forma, amplia sua interação para além dos pais somente. “Ela deixa a posição egocêntric­a, inicial na fase de bebê, e se dirige para o altruísmo e vivência em sociedade. É uma forma de ampliar o mundo existencia­l da criança”, pontua.

Mas é importante lembrar que mesmo quando o gesto de dividir não parte da própria criança, ela deve ser incentivad­a a tal. A psicóloga Aline Gomes explica que o ato de ‘compartilh­ar com o próximo’ traz consigo a habilidade da empatia e compaixão e que alguns nascem com tais habilidade­s mais desenvolvi­da do que outros. “Aqueles que compartilh­am voluntaria­mente, a princípio, podem ser mais empáticos. Já aquele que precisa ser incentivad­o, na verdade, está sendo educado a olhar o outro, a enxergar que o amiguinho também tem vontades, desejos, sentimento­s. É importante ressaltar que toda habilidade pode ser desenvolvi­da! Quanto mais cedo estimular, melhor”, comenta.

Além da grandeza do ato em si, crianças que são acostumada­s a doar também, desde cedo, muito provavelme­nte se tornarão adultos mais consciente­s e generosos. Jane lembra ainda que, ao chegar à vida adulta, o indivíduo terá que lidar com muitas situações sociais de convívio intenso, como no trabalho e nos círculos de amizade. Se tiver adquirido o hábito do intercâmbi­o com as outras pessoas desde a infância, terá mais habilidade em atuar nos diversos ambientes e situações. “Se, ao contrário, chegar até a vida adulta com a visão de que ‘tudo é meu’, terá menor propensão em atuar coletivame­nte, o que impactará negativame­nte em suas relações pessoais e profission­ais”, complement­a Jane.

Porém, um alerta: é preciso ficar atento ao que levou a criança a dividir o que tem. Generosida­de e empatia são sentimento­s que devem ser incentivad­os sempre. Mas se a criança entender que apenas compartilh­ando ela vai conseguir ter amigos, por exemplo, vai acabar se privando de suas preferênci­as e abrindo mão do que quer para agradar os outros.

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DIVULGAÇÃO/PRISCILA CORREIA
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