Delegados contra Bolsonaro
Entidades da classe repudiam as declarações do presidente sobre caso Marielle
Apolêmica sobre as declarações do presidente Jair Bolsonaro contra o governador Wilson Witzel e a Polícia Civil, insinuando possível adulteração de provas e coação de testemunhas nas investigações do caso da morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, está longe de ter um fim. Ontem, a Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol) e órgãos representantes da categoria divulgaram nota de repúdio contra Bolsonaro.
Segundo a nota publicada pela Adepol Brasil, Bolsonaro está beneficiando-se do cargo ocupado para atacar e tentar intimidar o delegado responsável pelas investigações do caso. À imprensa, em Brasília, o presidente disse neste sábado que conseguiu ter acesso aos áudios do condomínio Vivendas da Barra antes que, segundo ele, fossem adulterados.
A polêmica começou após o suposto vazamento do depoimento de um porteiro que trabalha no condomínio onde Bolsonaro mora, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Na declaração, o porteiro teria dito que a entrada de Élcio de Queiroz, envolvido na morte da vereadora, no condomínio foi autorizada por ele.
Com o suposto vazamento, Bolsonaro atacou a Polícia Civil e o governador Witzel. Na sexta-feira, promotores do Ministério Público do Rio (MPRJ) disseram que os áudios contradizem o relato do porteiro.
Na nota, as entidades reafirmam o apoio irrestrito ao delegado responsável pela investigação - a quem Bolsonaro chamou de “amiguinho do Governador” - e repudiam qualquer intimidação a ele e ao trabalho da Polícia Judiciária.
“Valendo-se do cargo de Presidente da República e de instituições da União, claramente ataca e tenta intimidar o Delegado de Polícia do Rio de Janeiro, com intuito de inibir a imparcial apuração da verdade”, diz um trecho do documento referindo-se a Bolsonaro.
E continua: “O cargo de Chefe do Poder Executivo Federal não lhe permite cometer atentados à honra de pessoas, muito menos daquelas que, no exercício de seu múnus público, desempenham suas funções no interesse da sociedade e, não, de qualquer governo”.
Assinaram a nota a Associação do Delegados de Polícia do Brasil (Adepol do Brasil), a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Civil (FENDEPOL), o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Rio (SINDELPOL-RJ), o Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Amazonas (SINDEPOL-AM) e a Associação dos Delegados de Polícia do Pará (ADEPOL-PA).