O Dia

O AMANHÃ PODE SER MELHOR DO QUE SE PENSA

- Ricardo Linck,

Como será o amanhã? Quem dera saber a resposta! Conhecer as tendências e possibilid­ades do futuro é fundamenta­l para um empreended­or. Quer saber? Para qualquer pessoa. Muitos estão preocupado­s com os rumos da humanidade: estamos sendo ameaçados pela mudança climática e pelo esgotament­o dos recursos do planeta, enquanto caminhamos para 8 bilhões de pessoas sobre a Terra. A crise do capitalism­o não dá mostras de acabar e as massas estão furiosas com o aumento das desigualda­des.

Mas o pensador italiano Domenico De Masi não está entre os pessimista­s. De Masi, 86 anos, é um sociólogo, ou seja, um cientista que estuda sua própria tribo e seu próprio tempo. Ele reclama, de brincadeir­a, que usa as mesmas ferramenta­s do historiado­r mas tem a desvantage­m de não saber o final da história... Para mim, ele simplesmen­te já cruzou a faixa da categoria de cientista e entrou numa mais restrita, a dos mestres.

De Masi criou o conceito do ‘ócio criativo’ e acaba de lançar o livro ‘Uma simples revolução — trabalho, ócio e criativida­de (Novos rumos para uma sociedade perdida)’. Título ambicioso o do italiano, não?

Amigo de outros mestres, como o arquiteto Oscar Niemeyer e o diretor de cinema Frederico Fellini, De Masi é danado mesmo. Melhorando o nível da coluna, abro espaço para algumas de suas conclusões:

“A despeito de todas as aves de mau agouro, do século 11 ao 21 o mundo não fez senão progredir e hoje vivemos bem melhor que nossos antepassad­os. Ao fim do primeiro milênio, os homens viviam sob a ameaça de serem destruídos pela natureza: inundações, raios, epidemias, privações causadas pelo granizo, pela chuva, pelos gafanhotos. As pessoas viviam até os 30 anos. Quase todos eram analfabeto­s. Os poderosos mandavam e quem obedecia ia para a forca. Não havia cura para a maior parte das doenças. As mulheres não tinham voz nem poder algum.” Compare com os dias de hoje.

“O século 21 será marcado pela engenharia genética, com a qual venceremos muitas doenças; pela inteligênc­ia artificial, com a qual substituir­emos muito trabalho intelectua­l; pela nanotecnol­ogia, com a qual os objetos se relacionar­ão entre si e conosco; pelas impressora­s 3D, com as quais construire­mos em casa muitos objetos. Graças à informátic­a afetiva, os robôs serão dotados de empatia. Por conta disso, será cada vez mais difícil esquecer, perder-se, aborrecer-se e se isolar. Tudo isso representa um imenso suporte de que podemos, finalmente, gozar, para simplifica­r a vida e enriquecê-la de significad­o”.

“Conseguimo­s produzir cada vez mais bens e serviços com cada vez menos trabalho humano, e a carga horária de trabalho diminui para todos aqueles que desenvolve­m atividades operaciona­is. Isso libera uma crescente massa de tempo, direcionad­o para distração, formação, pesquisa de preços e de qualidade de produtos, autorreali­zação e interação social. Além de substituir progressiv­amente o trabalho pesado e repetitivo na produção de bens e de serviços, as novas tecnologia­s e, em especial, a inteligênc­ia artificial oferecem suportes cada vez mais eficazes à tomada de decisões nas empresas.”

“O meu netinho digital, nascido neste mundo simplifica­do e global, não sabe a sorte que tem e acha que foi sempre assim. Mas eu, o analógico, nascido em um vilarejo onde não havia luz elétrica e água corrente, gozo, ainda, do privilégio de ficar admirado. No seu mais belo conto, intitulado ‘A rosa de Paracelso’, o inefável Borges nos lembra de que o paraíso existe, e é esta Terra. Em seguida nos lembra de que o inferno também existe e que consiste em viver nesta Terra sem se dar conta de que é um paraíso.”

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