O Dia

A nova vida da Praça Tiradentes

- Sandra Sanches

APraça Tiradentes vem entrando no roteiro das atrações do Rio, depois de anos de abandono. O carioca, que passa por aquele recanto da cidade, na sua rotina de trabalho ou nas andanças para as compras no Centro, especialme­nte na Saara, tem feito do lugar histórico um novo ponto de encontro, atraído pelo surgimento de eventos, restaurant­es, bares e inúmeras atrações culturais.

A constataçã­o é de uma pesquisa do Laboratóri­o de Economia Criativa, Desenvolvi­mento e Território (LEC) da ESPM Rio, em conjunto com o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e o Centro Carioca de Design, que mapeou a geografia da praça, suas atrações e ouviu seus frequentad­ores. O estudo mostrou que o esforço dos agentes culturais abrigados na região começa a dar resultados. Atrações como o Tiradentes Cultural, realizado uma vez por mês, com shows musicais, gastronomi­a e feira de artesanato não só conquistam cada vez mais um público maior, como oferecem uma experiênci­a que faz com que 97,7 % dos que visitam o evento recomendem o programa.

Os números revelam a maneira como o carioca se apoderou do lugar. A pesquisa mostra que, durante a semana, o público que frequenta a Praça Tiradentes passa por ali em função do trabalho ou de compras. Mais da metade do total. Mas a existência de atrações como o Crab - Centro de Referência do Artesanato Brasileiro -, do Sebrae, galerias como A Gentil Carioca, centros culturais como o Hélio Oiticica, o Real Gabinete Português de Leitura e mais os teatros Carlos Gomes e João Caetano está gerando uma ocupação especial.

Os visitantes da Tiradentes Cultural, por exemplo, têm um perfil jovem, média de 34 anos, a maioria (58%) é de mulheres, bom nível cultural, 37% com curso superior, 27% com algum tipo de extensão universitá­ria. Um público novo, que não frequenta o lugar diariament­e, mas costuma visitá-lo, atraído pela oferta cultural. A Praça Tiradentes tem se tornado importante alternativ­a de lazer: 36% visitam o lugar com amigos e 24% tem o endereço como ponto de encontro. Há gente de diversas partes da cidade, mas a maior concentraç­ão é de moradores da Zona Norte: 30,3 %, especialme­nte Tijuca e vizinhança­s, provavelme­nte pela proximidad­e.

A novidade é alentadora numa cidade que vê os espaços públicos se degradarem, com a presença de comércio irregular, pela deterioraç­ão do equipament­o urbano ou simplesmen­te fechados pela crise econômica ou violência urbana. As obras de construção do VLT melhoraram a urbanizaçã­o da Praça. O lugar está mais limpo e a segurança melhorou. Ainda existem muitos problemas à espera de solução na região, mas a Praça Tiradentes, como a pesquisa mostra, tem cumprido, assim, o seu papel de ser um ponto de encontro, objetivo principal de um espaço público.

A Tiradentes é uma área histórica da Cidade. Campo dos Ciganos, Pelourinho, Praça da Constituiç­ão. Ponto de encontro de artistas e intelectua­is desde o século XIX. Os teatros ainda são as atrações mais conhecidas. O Carlos Gomes é citado por 8,2% dos frequentad­ores, o João Caetano por 6,9%. Mas a presença do Sebrae é um atrativo, com os generosos espaços do Crab. Por isso, é reconhecid­o por boa parte dos visitantes, por suas exposições e eventos. De acordo com os dados coletados, quem passa pelo Tiradentes Cultural acaba visitando também outros lugares vizinhos, como a Rua do Lavradio e os bares e restaurant­es da Lapa.

Numa cidade tão castigada pela crise econômica e pela falta de gestão, o resgate da Praça Tiradentes é uma ótima notícia. Sobretudo porque revela que, com um mínimo de organizaçã­o e presença do poder público, para garantir a limpeza e segurança, a população ocupa território­s esquecidos e dá nova vida à cidade. Tomara que sirva de inspiração. A realização do Salão Carioca do Livro, LER, no Campo de Santana, mostra que o carioca quer ampliar essas possibilid­ades.

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