O Dia

‘O Carnaval salva vidas’

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Durante muitos anos, a Mangueira aderiu à moda de colocar famosas como rainha de bateria e você quebrou isso resgatando a tradição de mulheres da comunidade, que aliás eram eleitas pelos ritmistas. Dá para contar um pouco sobre esse primeiro ano de reinado?

NA Mangueira sempre teve a tradição de colocar uma mulher da comunidade como rainha de bateria. Tinha concurso, uma eleição e durante muitos anos foi assim. Só que houve um problema e parou esse esquema. Durante sete anos, mulheres de fora acabaram sendo chamadas. Entrou uma nova diretoria e decidiu resgatar a velha tradição e eu entrei. Eu era rainha de Carnaval e recebi o convite de ser rainha de bateria da Mangueira. Aceitei e foi muito emocionant­e porque eu ocupei um lugar que foi da minha mãe há 30 anos.

LVocê é uma mulher bonita e atraente. Já sofreu assédio? Já foi vítima de algum preconceit­o social ou racial mesmo sendo Evelyn Bastos?

NNunca sofri assédio dentro do Carnaval. Nunca sofri assédio como rainha de bateria porque temos algumas precauções quando vamos tirar fotos, temos cuidados na hora de posar para as fotos e recebemos respeito, mas já fui várias vezes vítima de preconceit­o social e racial. Sempre tive na minha cabeça isso e me preparei para saber lidar com essas situações. A mim não fere em nada porque eu sei o meu lugar, sei o que eu conquistei com honestidad­e e muito trabalho e qual é a minha luta, mas penso nas meninas da Mangueira que ainda não têm opinião formada e estão com uma personalid­ade não tão estável e forte que só se adquire com o tempo. Mas eu procuro sempre falar porque as coisas precisam ser ditas,

colocadas para um dia acabar.

LNLNO que o samba te deu em termos pessoais já que você é uma profission­al e é uma passista que viaja o mundo?

NLVocê continua morando na Mangueira? Pensa em sair da comunidade?

Eu me divido muito porque o meu noivo mora em Guaratingu­etá, em São Paulo, porque ele tem um cargo político lá e não pode se ausentar. Aí eu fico um pouco lá com ele e um pouco aqui com a minha mãe e a minha irmã. A minha família inteira mora na Mangueira e eu estou sempre lá.

LSeu noivo é ciumento? Por falar em noivo como estão os preparativ­os para o casamento? Seu vestido vai ser tradiciona­l?

gente tem ciúmes, mas é aquilo de quem se gosta, norm a l . A nossa relação é de muita confiança, de muita lealdade. Estamos pensando aos poucos, mas estamos nos preparativ­os, estamos organizand­o. O meu vestido de noiva vai ser tradiciona­l e está todo desenhado.

Apesar de muitas escolas negarem, ainda se fala em venda de posto, principalm­ente na função de rainha de bateria. O que você acha disso?

Existe. Mas talvez por questão ética, eu prefiro não entrar muito nessa questão. Na minha opinião, eu acho que uma rainha de bateria deveria ser uma pessoa que tenha ligação com a comunidade e com o Carnaval durante o ano inteiro. Sou fã e bato palmas para a escola que coloca o talento de sua própria comunidade, talentos desconheci­dos para propagar para o mundo o samba. É necessário para a nossa cultura. O Carnaval salva vidas e as escolas precisam abrir essa porta para a sua gente, abrir portas para os seus artistas do Carnaval.

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