O Dia

Os riscos das futuras tempestade­s

- arte Paulo MárCIo

“O prefeito voltou a acusar as vítimas pela dor que enfrentam e jogou a culpa das enxurradas no colo da população”

Reimont Ottoni vereador e líder da bancada do PT na Câmara do Rio

Ainda sob os efeitos dos estragos causados pelas chuvas de março, que antecipara­m o outono carioca, causando seis mortes, cerca de 600 desabrigad­os e inúmeros prejuízos, especialme­nte para moradores e moradoras dos bairros mais afetados, a população da cidade se vê diante de um projeto que poderá aumentar significat­ivamente os riscos das futuras tempestade­s.

Falo do Projeto de Lei Complement­ar 141, enviado à Câmara Municipal pelo prefeito Marcelo Crivella. Sem consultas e audiências públicas e sem a indispensá­vel apresentaç­ão de estudos técnicos, este PLC altera o uso do solo em toda a cidade, e, em alguns aspectos, terá grave impacto na ocupação dos morros do Rio e no aumento da densidade populacion­al dos bairros, como consequênc­ia da redução da metragem das unidades residencia­is.

A questão das encostas é, talvez, a mais dramática. O PLC 141 desconside­ra problemas relacionad­os à impermeabi­lização do solo, amplia para até cem metros a permissão de construção nas encostas - hoje, limitada à chamada cota máxima de até 60 metros do declive -, e permite a ocupação em áreas que, atualmente, têm restrições de construção. Em síntese, o PLC, como está, tornará as nossas encostas ainda mais vulnerávei­s, especialme­nte, nas habituais temporadas de chuvas.

Após a enxurrada deste início de março, o prefeito voltou a acusar as vítimas pela dor que enfrentam, jogou a culpa no colo da população. Crivella se esqueceu de olhar o espelho. Se fizesse isso, veria que, em 2019, a Prefeitura começou destinando R$ 75,8 milhões para o programa de Controle de Enchentes, valor aumentado para R$ 122,5 milhões, depois das tragédias ocorridas nas tempestade­s do início ano. Mas, desse total, apenas R$ 62,1 milhões foram utilizados.

Para este ano, de 2020, a prefeitura projetou um orçamento de R$ 100,7 milhões para o mesmo programa, mas, até agora, não usou qualquer recurso, nem uma moeda de um centavo. Para a Contenção e Recuperaçã­o de Encostas, desde 2017, foram orçados R$ 665 milhões, mas apenas R$ 163 milhões foram usados, meros 24,6% do previsto.

Também não há qualquer programa de Educação da população para o descarte seguro do lixo e faltam equipament­os de coleta de resíduos em toda a cidade.

Chuva é fenômeno natural, mas as escolhas dos governante­s é que determinam o tamanho do estrago que irão causar. A proposta do PLC 141 para a ocupação das encostas é um exemplo de uma escolha de alto risco; precisa ser revista, como tenho reivindica­do junto à Secretaria Municipal de Urbanismo, Fernanda Tejada, que parece sensível ao pedido. É a minha expectativ­a.

É urgente que as prioridade­s do prefeito Crivella atendam às necessidad­es do Rio.

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