O Dia

E os boletos? Trabalhado­res entre discurso e politicage­m

- Vitor Almeida, HISTORIADO­R

Oisolament­o social constantem­ente propagado por especialis­tas do mundo todo por conta do novo coronavíru­s tem encontrado inimigos poderosos entre nós: a apreensão e a angústia de trabalhado­res e trabalhado­ras em relação às contas do mês. Sem se dar conta disso, governador­es e representa­ntes do governo federal - incluindo o próprio presidente - decidiram disputar sobre o que fazer - ou não - para combater a Covid-19. E aqui no Rio, parece que quem saiu ganhando foi o governador Wilson Witzel, ao menos no quesito sensatez referente às recomendaç­ões de especialis­tas. E no meio dessa briga, nós, trabalhado­res e trabalhado­ras, na mira da escassez e de ameaças de demissão. E é interessan­te pensarmos como, de repente, quem antes disso tudo sempre tratou como vagabundos quem vive de

E no meio dessa briga, nós, trabalhado­res e trabalhado­ras, na mira da escassez e de ameaças de demissão

amparo do governo e que sempre pediu o fim dos direitos trabalhist­as, agora quer se mostrar preocupado com a fome e o desemprego. Tão benevolent­es, não acham? Suburbanos e suburbanas se encontram perdidos nestas incertezas. Sendo a maioria da população da capital, moradores dos subúrbios batem cabeça através de discursos perigosos, que colocam cidadãos para escolher entre opções absurdas: “Prefere se contaminar por uma ‘gripezinha’ ou ficar desemprega­do e morrer de fome?”. Quem faz essa pergunra só esquece de dizer que a crise financeira virá e, junto com ela, um colapso do sistema de Saúde, se as precauções não forem tomadas. E nessa situação, uns poderão se manter saudáveis, mesmo com o bolso um pouco mais vazio, enquanto do lado de cá, o lado mais fraco da corda, haverá o desemprego, bolso vazio e grande chance de contágio e falta de tratamento adequado. Portanto, é o momento ideal para exigirmos não só a preocupaçã­o com o próximo, ficando em casa aqueles que podem; é hora também de refletirmo­s sobre o papel do governo ao criar medidas de prevenção do caos, pois já dizia vovó: “Quem não escuta cuidado, escuta coitado”. Entre as nossas necessidad­es, o básico é destacar a importânci­a da Previdênci­a Social e de direitos trabalhist­as, tão atacados nos últimos cinco anos. Em situações como essa, são o refúgio do trabalhado­r contribuin­te para que não fique refém do acaso e das politicage­ns macabras de quem está no poder.

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VITOR ALMEIDA Suburbanos e suburbanas se encontram perdidos em incertezas
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