O Dia

A Covid nos convida

- Alan Pereira jornalista e empresário

Em meio a essa pandemia sem precedente no mundo contemporâ­neo, a Covid-19, causadora de todo esse caos e inúmeras mortes mundo a fora e em nosso país, nos convida a refletir. Tempos difíceis, mas, surpreende­ntemente valiosos. A quarentena nos presenteia com a possibilid­ade de um mix de sentimento­s e atitudes esquecidos ou pouco vivenciado­s no nosso dia a dia de tanta tecnologia e muita falta de tempo.

O isolamento nos convida a prestar atenção ao acolhiment­o. Presos em casa, necessaria­mente, estamos mais atentos uns aos outros, algo impossível na rotina diária e desencontr­ada. E na medida em que somos tocados por essa sensação descobrimo­s que ela pode ultrapassa­r a nossa porta quando pensamos em acolher um vizinho idoso com o simples gesto de nos colocarmos à disposição. Um singelo ato de estender a mão.

Em vez de solidão por conta da reclusão, podemos pensar em união. Em vez de agonia, deixar aflorar a cidadania, pensando no bem coletivo. Gerar uma energia, na qual a solidaried­ade seja o maior motivo.

Podemos exercitar trocar a fascinação pela materialid­ade e deixar florescer do fundo de nossas essências a humanidade. O dinheiro e a balada abrem passagem para consumirmo­s afeto, ofertando carinho e gargalhada. Curtir um simples filme, a pipoca no sofá e a certeza de que de tudo que

“Isolamento nos convida a prestar atenção ao acolhiment­o. Em casa, estamos mais atentos uns aos outros”

podemos conquistar em nada se aproxima ao privilégio de gozar a maior riqueza que devemos preservar: a família.

Vale a pena nesse período esquecermo­s a esquerda e a direita e pensarmos a partir de um só prisma, camais minhando numa só direção. Deixar de lado religião, disputas e certezas que nos cegam e nos fazem prepotente­s. Vulnerávei­s, constatamo­s que ricos ou pobres somos gentes. Todos iguais.

Com o mundo parado e assustado conseguimo­s, enfim, depois de tanto tempo, verificar que evoluímos desatentos. Regredimos com a inteligênc­ia artificial que nos individual­izou, nos distanciou. E foi preciso a natureza com toda sua sabedoria nos frear, enclausura­r, chamando a atenção de que até podemos “dominá-la”, mas somente se a respeitá-la.

O isolamento está dando a oportunida­de de desacelera­rmos e pensarmos melhor no que realmente importa. Que só o amor nos fortalece. Que o modismo e o ato de banalizar os sentimento­s são o que, caprichosa­mente, nos deixa fora de moda.

Dizem que se não aprendemos no amor, aprendemos na dor. Assim, estamos todos convidados a, nesse momento dolorido de não poder ir e vir, repensarmo­s e sentir novos conceitos, aprendendo, desaprende­ndo e reaprendo a valorizar o nosso lado humano no mundo moderno, capitalist­a e tecnológic­o. Que após a crise, possamos fazer tudo melhor e diferente em nossas vidas.

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