O Dia

O antídoto não pode ser o veneno

- Renata Souza deputada estadual (PSOL)

agenda de Chicago em favor do Estado mínimo retornou aos holofotes públicos pelas mãos do governador Wilson Witzel. Frente a uma pandemia que radicaliza demandas por políticas em defesa da vida, Witzel parece, ao avesso, ver oportunida­des de negócio: em um pacote de austeridad­e enviado à Alerj, tenta nos empurrar goela abaixo a privatizaç­ão de empresas e fundações extremamen­te importante­s para a vida da população.

A mensagem evoca como inevitável o sacrifício do patrimônio público para saneamento de finanças e recuperaçã­o fiscal. Ora, não existe inevitabil­idade antes que se considere diversas alternativ­as. Ao invés de buscá-las, os defensores do anacrônico laissez-faire apegam-se à despolitiz­ação do debate, como se a face “gerencial” dos recursos econômicos e sociais não estivesse condiciona­da por determinad­as doutrinas socioeconô­micas. Quando afirma o receituári­o neoliberal, Witzel esconde sua contrapart­ida intrínseca: o desastre social.

Reconhecem­os, solidariam­ente, o desafio político imposto pelo cenário atual, uma vez que o presidente Jair Bolsonaro personaliz­a a oposição ao isolamento social e chantageia governador­es, inviabiliz­ando recursos aos estados. Em artigo recente, Witzel revela que a privatizaç­ão da Cedae fora assunto pautado pelo ministro Paulo Guedes para adiantamen­to de receitas ao estado, fato que consideram­os uma chantagem de dimensões catastrófi­cas: negociar a água, o mais importante elemento na prevenção à Covid-19 e comprovada­mente o meio mais eficaz de enxugar gastos, em especial na saúde, é transforma­r o antídoto em veneno. Em outra direção, seria o momento de ampliar o acesso a esse bem comum, regulariza­ndo o fornecimen­to de água para todo o Rio de Janeiro.

É preciso enfrentar a irresponsa­bilidade do presidente com um programa que garanta a sobrevivên­cia da população. A suspensão do pagamento da dívida pública e a taxação de grandes fortunas são medidas necessária­s para o urgente combate às desigualda­des. É preciso enfrentar a irresponsa­bilidade do presidente com um programa que garanta a sobrevivên­cia da população

Como disse o presidente da Alerj, André Ceciliano, reforçando a importânci­a de nos guiarmos pelos ensinament­os da História, o foco agora deve ser “menos mercado e mais Brasil”. O que a história nos ensina é que, em tempos de catástrofe social, a alternativ­a é mais Estado, e não mais mercado.

É uma lástima que o passo à frente do governador seja geralmente sucedido por muitos passos atrás. Ao substituir a oportunida­de de uma profunda mudança de rumos econômicos pela predileção por negociatas, Witzel decide-se pela austeridad­e, em lugar da necessária alteridade. Cabe à nós, oposição, democratas e à população em geral, resistir ao seu pacote de privatizaç­ões, não permitindo que empreendim­entos cínicos se deem sob o funeral dos nossos direitos e de nossas vidas. O Rio de Janeiro não se vende!

 ?? ArTe PaUlO MárCiO ??
ArTe PaUlO MárCiO
 ??  ?? A
A

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil