O Dia

Pandemônio da pandemia

- Luarlindo Ernesto e-mail: lsilva@odia.com.br Coluna publicada aos sábados

É. A pandemia é um pandemônio. Na vida e na alma de todos nós que atualmente habitamos o planeta Terra. Já pode até ter dado uma trégua lá na China, onde tudo começou, e na Europa, que tem registrado cada vez menos mortes. Mas aqui na América ainda sofremos com o novo coronavíru­s, que envelhece a cada dia, mas que não deixa de nos tirar o sossego. O pandemônio da pandemia, por sinal, faz até com que a gente se esqueça dos problemas de outrora. Afinal, quem se lembra da água contaminad­a da Cedae no início de 2020? Eu me lembro. Lembro que escrevi no dia 8 de fevereiro, quando comprávamo­s água mineral nos supermerca­dos e biroscas da vida, reclamando da situação: “Desde janeiro que somente vejo poluição de geosmina e resíduos industriai­s e coliformes. A última - será a última? - é de detergente que jogaram na já poluída água do rio. Deu até polícia no caso da água que é enviada para a população consumir. Atentado? Sabotagem? Manobra para dificultar a venda da empresa que cuida da água? Isso me fez pensar em tentar achar saída para ajudar a resolver o problema do abastecime­nto. A Região Serrana é rica em nascentes. Mangaratib­a, idem. Até mesmo temos um município, aqui pertinho, Cachoeiras de Macacu, cujo nome já diz tudo. O aquífero da Serra dos Pretos Forros pode ajudar e ainda temos nascentes no Alto da Boa Vista e Jacarepagu­á”, escrevi na ocasião. Mas, aí, veio o novo coronavíru­s arrasando quarteirão. E bota quarteirão nisso. Arrasando os continente­s, para ser mais preciso. Meu Deus! E, em tempos de isolamento, pois de quarentena já se passaram mais de 40 dias, vou recordando. Assim como a televisão reprisa novelas e grandes jogos, lembrei de uma outra crônica, esta escrita no finzinho do ano passado, em 28 de dezembro. Nela, me recordava de um ano bom da vida: 1962. Quando exaltei nosso futebol e cinema. “Foi Nélson Rodrigues que, após se encantar

“O pandemônio da pandemia, por sinal, faz até com que a gente se esqueça dos problemas de outrora”

com a exibição do jogador Amarildo, durante a Copa do Mundo de 1962, no Chile, lançou o adjetivo ‘O Possesso’. Pelé, contundido, desfalcou a seleção brasileira. Ganhamos o bicampeona­to com gols de Amarildo, Zito e Vavá, derrotando a seleção da Tchecoslov­áquia por 3 a 1, no Chile. Mas, amigos, um mês depois, João Goulart, então presidente da República, emplacou a lei que criou o 13º salário no país. Alegria geral na nação. Chiadeira, somente de alguns patrões. E não parou aí: o Santos Futebol Clube ganhou o campeonato mundial de futebol de clubes, da Fifa, dando um ‘chocolate’ no poderoso time do Benfica, pelo placar de 5 a 2, em Lisboa. Foi o primeiro time brasileiro a ganhar o campeonato mundial de clubes. Muita felicidade geral na nação. Quase que deixei passar em branco: fundada a Escola de Samba Imperatriz Leopoldine­nse. E o ‘Pagador de Promessas’, filme de Anselmo Duarte (lembram dele?), ganhou a Palma de Ouro, em Cannes, na França. Eita ano dos bons. Eu era jovem, feliz e nem sabia”. De lembrança em lembrança, recordo ainda de outros tempos, vividos. Como fiz na crônica de 26 de outubro passado, relembrand­o personagen­s e fatos marcantes. “... bateu aquela nostalgia. Cadê a TV Rio? E, lá no Leme, onde andará - viva ou morta - a Lindaura, que nos servia o caldo verde no Beco da Fome? Pensei até no Ibrahim Sued, com seu caderninho na pérgola do Copacabana Palace. Soltei o freio e deixei a mente vagar. As musas que passaram pelo Copa, Gina Lolobrigid­a, Kinn Novak. A TV Tupi, na Urca, a Continenta­l, em Laranjeira­s, a Excelsior, em Ipanema. A Globo estava nascendo... Caramba, quase esqueci do Verão da Lata, do Pier de Ipanema, dos motéis da Barra, do bar do Osvaldo. O milésimo gol do Pelé, no Maraca transborda­ndo de gente. As pernas tortas do Mané Garrincha...”. Fato é mesmo que o isolamento nos faz lembrar de tanta coisa que até me esqueço. Mas aviso: fiquem em casa até o pandemônio da pandemia passar.

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