O Dia

Desmontei o escritório de campanha

- Luarlindo Ernesto e-mail: lsilva@odia.com.br Coluna publicada aos sábados

Oescritóri­o de campanha que montei no quintal aqui da minha caverna desde o início da minha reclusão na pandemia, uma espécie de pracinha - ou gazebo -, vai chegando ao fim. O frio é de lascar... Estou em local com mais de 60 metros acima do nível do mar, área descampada, em frente à Serra dos Pretos Forros, latitude 22.900.1808 - longitude 43.306384, para ser mais preciso. Venta muito. O laptop, o celular e o velho radinho de pilhas, que faziam o mobiliário do home office, ficam empoeirado­s e quase congelam. É melhor eu procurar abrigo no pequeno escritório que fica no imóvel (ou caverna?), protegido das intempérie­s. Vou ficar longe dos pássaros que me cercam, empoleirad­os nas árvores que se espalham na área, sempre atentos às migalhas e alpiste que deixo em pontos estratégic­os. Ficarei mais distante do pé de bergamota. Ah, da nêspera também. A muda de maçã, que plantei em março, já está grande. As três parreiras, devidament­e podadas, aguardam a chegada dos cachos. A acerola e a pitanga, já adultas, prometem dar frutos em breve. As frutas de conde já despontara­m no solitário pé. As duas bananeiras, presente de um empresário do ramo de bar e restaurant­e - dono de sítio em Itaboraí - vingaram. Logo vão deixar surgir os frutos, do tipo prata. O pé de figo, que atraíam as ararinhas, foi atacado por fungo. Mas tô tratando dele. O meu xodó, entretanto, o pessegueir­o não teve sorte (eu, também), e secou. Estou disposto a fazer campanha pela internet: “Aceito doação de muda de pêssego”. Ainda não decidi. Afinal, quem comia os frutos eram os sanhaços (Thraupis,

“Estou disposto a fazer campanha pela internet: ‘Aceito doação de muda de pêssego’. Mas ainda não decidi”

nome científico da ave) e eu nunca briguei com eles. Aliás, esses sanhaços, ainda gostam das uvas e chegam em bandos para se alimentar por aqui. Maravilha da natureza. Diariament­e, mesmo no inverno e com o vento implacável dessas bandas, as sabiás vêm para o banquete também. Ainda mantenho flores. Afinal, não posso esquecer dos miúdos, ligeiros e simpáticos beija-flores. Eles são em bandos distintos e têm vários nomes. Um deles, o mais conhecido em nossas bandas, é o colibri. Lembram? São da família Picidae. Um casal chegou a se apoderar do pessegueir­o, a árvore que secou. Eu ficava um tempão esperando que os dois afugentass­e outros da espécie que tentavam se aproximar das flores da fruta. Incrível a fúria que mostravam para defender o “território” . Outro miudinho que aparece mais raramente é o famoso pica-pau. Menor que o beija-flor, atrai o meu olhar pelo barulho que faz bicando os troncos de árvores. O cardápio dele, entretanto, são larvas de insetos. Nem dá bola para as frutas. Então, como bom anfitrião, mantive troncos de um pé de goiaba que podei exclusivam­ente para esse gosto de ver os pássaros no meu quintal... Vez por outra, lá vem o danadinho diretament­e no tronco velho. Deu Certo! Não sei se é o mesmo pássaro. Não enxergo bem. Ô maldita catarata... Ah, têm as rolinhas. São mais de cem que disputam o alpiste que jogo três vezes ao dia. Mas vou me retirando desse paraíso. Vou ficar mais recluso dentro de casa (caverna). O escritório, pequeno, está bem em frente ao quintal. Já tirei a poeira do binóculo e vou ficar de vigia enquanto trabalho. O amigo-vizinho suíço, o Fred, sabedor do meu gosto ornitológi­co, já decretou: “Isso é coisa de velhos. Eu também aprecio os pássaros no meu quintal...” Dito isso, sorve mais um gole de stanheiger: “Saúde!”

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