UMA ESCOLA CONTRA O PRECONCEITO
Acadêmicos do Sossego renova com Anderson Morango, a portabandeira trans do Carnaval carioca
AAcadêmicos do Sossego é uma das escolas de samba símbolo do Orgulho LGBTI no Carnaval carioca e possui uma porta-bandeira trans na agremiação. Anderson Morango, mais conhecida simplesmente como Morango, renovou com a escola de samba e fará o seu terceiro desfile pela Azul e Branco do Largo da Batalha no próximo ano, na disputa da Série A, na Marquês de Sapucaí.
“Me assumi gay aos 14 anos. Aos 16, eu entrei na Estação Primeira de Mangueira para cuidar do primeiro casal da escola, Marquinhos e Giovanna. Fiquei na Mangueira por 12 anos”, diz Morango.
Admiradora da arte, Morango conta que sempre prestava muita atenção na porta -bandeira, cujos movimentos a deslumbravam. Para ficar mais perto, decidiu virar mestre-sala:
“Passei por algumas escolas de samba, como Arranco do Engenho de Dentro, Mocidade de Vicente de Carvalho e União de Vaz Lobo, onde surgiu a lendária porta-bandeira Vilma Nascimento”.
A oportunidade de Anderson Morango realizar o sonho de virar porta-bandeira surgiu em 2001, quando foi criado o Embalo do Engenho Novo, bloco de embalo do bairro em que mora, no Rio. Coube a Morango a tarefa de encontrar um casal de mestre-sala e porta-bandeira. Ela começou o levantamento e, dias depois, veio a surpresa:
“Fui a um samba com amigos e comecei a rodar, brincando de porta-bandeira. Isso foi num fim de semana. Na segunda-feira, o presidente do bloco me chamou e disse que tinha achado o casal. Pensei comigo, menos um problema. Em seguida, ele me deu o pavilhão do bloco e disse que eu seria a porta-bandeira”.
A trajetória como porta -bandeira estava apenas no início. Depois de estrear na função no bloco de bairro, o destino guardava mais surpresas para Morango, que em breve seria chamada para fazer parte da Azul e Branco de Niterói.
“Foi aí que o presidente da Sossego, na época Wallace Palhares, viu o nosso desfile na Intendente Magalhães e me chamou para a escola como terceira porta-bandeira, pois o enredo falava de intolerância”, detalha Morango.
No ano seguinte, a diretoria da Sossego sofreu mudanças e teve alteração na presidência. Para quem achou que, com a saída de Wallace e a chegada de Hugo Júnior, acabaria a trajetória de Morango na agremiação, estava muito enganado.
“Hugo Júnior, o novo presidente, me ligou falando que eu continuaria. Fiquei feliz demais, chorei, pois isso era um sonho meu. Logo depois, na outra semana, me chamaram para dizer que eu me tornaria a segunda porta-bandeira. Falei que era loucura pois, se algo acontecesse com a primeira,
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eu teria que assumir”, recorda.
A justificativa do presidente emocionou Morango:
“Lembro até hoje das palavras dele, que disse: ‘seu amor pelo nosso pavilhão e seu bailado encantador faz a gente esquecer que você não é uma mulher’. As pessoas, no começo, acharam estranho, mas tudo que é novo e está fora dos padrões impostos pela sociedade, acaba provocando polêmica”.
PRECONCEITO
Anderson Morango conta que ainda sente preconceito da sociedade, mas afirma que não se importa e mantém o seu trabalho para mostrar que os gays têm, sim, espaço e que a discriminação está fora de moda faz tempo.
“A minha comunidade me abraça, torce por mim, falam que um dia eu tenho que ser primeira porta-bandeira. Todos nós podemos ser aquilo que quisermos, mas sempre respeitando o espaço do próximo para sermos respeitados”, declara.
Todos nós podemos ser o que quisermos, respeitando o espaço dos outros para sermos respeitados MORANGO, porta-bandeira