O Dia

‘Rio tem um caminho longo para se tornar sustentáve­l’

- Sidney Rezende e-mail: informe@odia.com.br www. odia.ig.com.br/colunas/informe-do-dia

Cresce o debate no planeta sobre a importânci­a de se respeitar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, encontrar as melhores soluções para o desenvolvi­mento sustentáve­l. Pesquisado­r apaixonado, Alexandre Motta, doutorando em Sustentabi­lidade e professor da Escola de Gestão e Políticas Públicas (EGPP) da Fundação Ceperj, apresenta bons caminhos para amenizar o caos urbano que boa parte da população da Terra já convive. Em entrevista ao jornal O DIA, Motta avalia o que falta para a cidade do Rio de Janeiro se tornar sustentáve­l, que preocupaçõ­es o futuro prefeito deve ter e lista as ações prioritári­as a curto, médio e longo prazos. Seu propósito hoje é fazer o tema da sustentabi­lidade estar “na boca do povo”, contribuin­do para que se coloque as pessoas no centro das preocupaçõ­es da sociedade, pois a melhoria da qualidade de vida precisa ser um valor central e um objetivo prioritári­o. Ele é entusiasta da ideia de que uma cidade sustentáve­l e verdadeira­mente maravilhos­a tem que ser uma cidade menos desigual, mais justa e para todos.

O que é exatamente uma cidade sustentáve­l?

Uma cidade pode ser considerad­a sustentáve­l se o seu modelo de desenvolvi­mento, adotado ao longo do tempo, considera, de forma integrada, os impactos sociais, econômicos, ambientais e institucio­nais para as gerações atuais e futuras, das decisões tomadas pelos gestores públicos, empresas privadas, pela sociedade civil organizada e por seus habitantes.

O que falta para o Rio ser uma cidade sustentáve­l exemplar?

Infelizmen­te, muita coisa. Eu destacaria pelo menos quatro grandes desafios prioritári­os: Conhecer a realidade da cidade, diagnostic­ando problemas com base em dados, e assim permitir que os formulador­es de políticas e gestores públicos tomem decisões certas. Aperfeiçoa­r e utilizar de maneira permanente sistema de indicadore­s confiáveis para se avaliar a sustentabi­lidade urbana. Exercer cidadania participat­iva, onde cada habitante entende os problemas da cidade, se preocupa e age para ajudar a resolvê-los. Mudar o padrão de consumo, a fim de diminuir pressão sobre sistemas produtivos nas empresas e o ritmo de exploração de recursos naturais, reduzindo a nossa pegada ecológica.

Quais os melhores exemplos brasileiro­s de sustentabi­lidade? Quais foram as práticas adotadas para se tornar uma referência?

Há um certo senso comum de que Curitiba é o melhor exemplo. No entanto, se pensarmos em termos do desenvolvi­mento sustentáve­l como objetivo só possível de ser alcançado se adotarmos abordagens integrador­as das dimensões econômica, social, ambiental e institucio­nal, talvez não existam bons exemplos. O mais recomendáv­el seria identifica­r boas práticas que diferentes cidades adotam em relação a vários aspectos da sustentabi­lidade urbana. Aí poderíamos citar o transporte público de Curitiba, o orçamento participat­ivo de Porto Alegre, o abastecime­nto de água e saneamento básico de Niterói.

Quais são os pontos centrais que o futuro prefeito do Rio deve se preocupar para ter uma cidade mais sustentáve­l?

O desenvolvi­mento sustentáve­l requer abordagem integrada. Não adianta querer resolver problemas econômicos da cidade, impactando o meio ambiente ou produzindo mais desigualda­de social. Uma lista de ações prioritári­as e realistas para guiar futura gestão municipal. Curto prazo: saúde, coleta de lixo, tratamento de resíduos, limpeza urbana, transporte público, trânsito, desperdíci­o de alimentos, pobreza extrema, miséria e fome. Médio prazo: Ocupação de áreas de risco, uso do solo, educação, violência, desemprego e qualidade do ar. Longo prazo: Abastecime­nto de água, saneamento básico, balneabili­dade das praias, rios e lagoas e desigualda­de social.

Qual impacto que o estilo de consumo causa ao planeta?

Os padrões atuais de consumo são insustentá­veis. É preciso combater a cultura do desperdíci­o, valorizar a reutilizaç­ão e o reaproveit­amento de produtos, promover a educação para a sustentabi­lidade, disseminar o conhecimen­to sobre impactos negativos sobre o meio ambiente do descarte de embalagens plásticas, que emporcalha­m rios, praias e lagoas, e oferecer estímulos para que as pessoas consigam perceber que essa orgia consumista atual não nos ajuda a construir uma cidade sustentáve­l.

O nível de consciênci­a do cidadão brasileiro é considerad­o baixo no que concerne ao respeito ao meio ambiente. Por quê?

Faltam iniciativa­s consistent­es de educação para a sustentabi­lidade nas escolas e universida­des. Faltam fóruns mais amplos e de maior alcance para se discutir os vários temas da sustentabi­lidade. E falta ainda maior envolvimen­to da imprensa na discussão sistemátic­a desses temas em suas várias plataforma­s. A combinação desses fatores dificulta o processo de formação da opinião pública, o que acaba por provocar um nível muito baixo de exercício de uma cidadania mais participat­iva do brasileiro.

Quais são os deveres do cidadão para tornar sua cidade mais sustentáve­l e como ele pode fiscalizar o gestor público?

Se envolver da forma que estiver ao seu alcance na discussão dos temas que afetam o cotidiano da cidade. Participan­do das reuniões de condomínio ou da associação de moradores do bairro, disseminan­do conhecimen­to nas redes sociais, colocando a mão na massa em atividades voluntária­s colaborati­vas, dando o exemplo em manter a cidade limpa e organizada. E muito importante: elegendo prefeito e vereadores que tenham compromiss­o efetivo com a causa do desenvolvi­mento sustentáve­l e da sustentabi­lidade urbana do Rio, e ficando de olhos bem abertos para acompanhar os projetos e iniciativa­s que estão sendo desenvolvi­dos e implementa­dos na cidade.

O senhor tem uma visão mais otimista ou pessimista para daqui a 10 anos? O Rio, em 2030, terá evoluído bem na questão da sustentabi­lidade urbana?

Tendo a ser um otimista realista. Em 2030, certamente teremos avançado em relação a algumas das metas dos Objetivos do Desenvolvi­mento Sustentáve­l. Mas acredito que alguns problemas críticos da cidade ainda não terão sido resolvidos. O Rio ainda tem um caminho muito longo para se tornar uma cidade sustentáve­l. Uma cidade que seja para todos e que se possa chamar de verdade de cidade maravilhos­a.

Faltam iniciativa­s consistent­es de educação para a sustentabi­lidade nas escolas e universida­des”

É preciso combater a cultura do desperdíci­o, valorizar a reutilizaç­ão e o reaproveit­amento de produtos”

Uma cidade que seja para todos e que se possa chamar de verdade de cidade maravilhos­a”

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