O Dia

“Processo de cura para esse desgaste”

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Miriane atualmente trabalha na Universida­de de Mannheim, na Alemanha. Em 2013, ela iniciou seu trabalho de incentivo à leitura com as Rodas de Leitura, que correram o Brasil e a fizeram conhecer muitas pessoas com os mesmo interesses, fosse em favelas cariocas, escolas públicas, cidades do interior do Nordeste... Muitos deles, se juntaram nessa iniciativa.

Ela também contou seus dias de incerteza, desde a ansiedade e o pânico iniciais de estar morando num país cuja língua ela ainda não domina.

“Para mim, tornou-se um processo de cura nesse desgaste da pandemia. Fiquei conectada com as pessoas, mesmo os que não deram continuida­de ao projeto. Foi muito intenso.” A procura pelos colaborado­res e a reação de cada um variou bastante.

“Convidei um amigo do Rio para escrever. Ele me disse que não se sentia apto. Mas, ao perder um amigo, escreveu no Facebook e acabou entrando no diário. Esse sentimento que leva as pessoas a querer se expressar me fez pensar mais na palavra ‘Emergência’. Daí, o nome.”

“O projeto não termina: escrever é libertador”

Vanusa Maria da Silva Borba, de 37 anos, estuda Administra­ção na Uerj e mora no Complexo da Maré. Ela conta que achou a ideia fantástica, e que foi um momento de catarse. No seu cotidiano de isolamento, estão os dois filhos, o pai, que sofre de esquizofre­nia, e os desafios de estagiar em home office.

“Nunca tinha feito um diário, me parecia coisa de adolescent­e. Mas escrever se tornou um momento de liberdade, em que eu podia falar sobre o que me incomodava, sobre o espaço dividido, a angústia de sair na rua e ver pessoas sem máscara. Perdi uma amiga, assistente social, nessa luta de tentar impedir que o vírus se propagasse pela Maré. Escrevia, chorava. Foi fundamenta­l.

“Estava acostumada a sair e só voltar para dormir. Ficar todos os dias em casa é bem complicado. Costumo brincar que se a gente não morre por covid, adquire problemas psicológic­os. O ponto alto foi servir como terapia. Escrever é libertador, continuo com a necessidad­e de escrever, de por para fora meus sentimento­s, medos. O projeto não termina.”

“O mais difícil de relatar foram as perdas”

Cynthia Rachel Esperança, de 36 anos, mora em Cascadura e trabalha com dramaturgi­a e direção teatral. Ela resumiu um universo em seu diário. “O mais difícil de relatar foram as perdas. Perdi dois tios, minha tia-avó e a vovó Anália. Nenhum em razão da covid, mas deixaram um hiato. Também relatei as festas no prédio. Parece que não existe pandemia, que as vidas perdidas não importam!”

Trechos do diário de Cynthia:

“Hoje tive aula de inglês online... meu professor is very cool rsrsrsrsr. Minha tia me ligou novamente. Meu tio foi internado.”

“O papai veio aqui, ele tem vindo quase sempre. É bom pra ele e é bom pra mim.”

“Um amigo veio passar uns dias com a gente. Protocolo pesado. Sapato na porta, roupa de rua no saco, banho... só não pude deixar de abraçar. Que falta faz um abraço!”

“Eu recebi um e-mail da editora que enviei o meu livro... coisa boa!”

“Dia da Independên­cia da Bahia! Dia de celebrar as boas coisas que a Bahia me deu e me dá. Só por hoje, não quero falar de quarentena.”

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