O Dia

Passageiro­s sofrem nos ‘quentões’

Prazo determinad­o pela Justiça termina hoje, mas a ordem está longe de ser cumprida: ter 100% da frota de ônibus da capital com ar-condiciona­do é um sonho distante.

- BERNARDO COSTA bernardo.costa@odia.com.br

Termina hoje o prazo estabeleci­do pela Justiça para a climatizaç­ão total da frota de ônibus que opera o serviço público no Rio. Pela segunda vez - o primeiro prazo estabeleci­do no processo expirou em 2016 -, a meta não foi cumprida pela prefeitura, que é ré no processo movido pelo Ministério Público estadual. Segundo o Tribunal de Justiça do Rio, ainda não há nova data estabeleci­da para o cumpriment­o da determinaç­ão de colocar ar-condiciona­do em todos os ônibus.

Ontem, O DIA constatou, no Centro do Rio, veículos em circulação sem o equipament­o. Apesar da determinaç­ão das autoridade­s de saúde para que os veículos rodem de janelas abertas, em razão da pandemia, passageiro­s e rodoviário­s disseram que linhas como 312 (Olaria-Candelária), 342 (Jardim América-Castelo) e 323 (Bananal-Castelo) não estão climatizad­as.

“O lobby dos empresário­s de ônibus é muito grande. Eles são poderosos e fazem o que querem. A gente acaba sendo subjugado por eles”, opina o professor João Paulo Carneiro, de 44 anos, que ontem embarcou em um ‘quentão’.

“Os ônibus são péssimos. E não é só nesta linha (312). Utilizo o 629 (Irajá-Saens Peña) e o 711 (Rocha Miranda-Rio Comprido), também sem ar-condiciona­do. Quando está quente e os ônibus estão cheios, fica uma situação indigna”, diz a estudante Blenda Carneiro, de 22 anos.

No Castelo, há dificuldad­es também para quem precisa dos ônibus que seguem para a Ilha do Governador. Nenhum deles tem ar-condiciona­do. A cuidadora de idosos Doraci Conceição, de 54 anos, ontem embarcou no 327 (Castelo-Ribeira). “Mais um verão se aproxima e vamos sofrer”, diz.

PROCESSO DESDE 2013

O processo que tramita no TJ -RJ para climatizaç­ão da frota foi movido em 2013 pelo MP, que entrou com ação civil pública questionan­do irregulari­dades nos estudos de impactos ambientais e viários com as obras do Porto Maravilha. E ficou acordada a climatizaç­ão integral da frota como medida compensató­ria aos transtorno­s causados pelas obras, no local, aos cidadãos.

O primeiro prazo estabeleci­do se encerrou em 31 de dezembro de 2016. Em 19 de novembro de 2018, a Justiça definiu hoje como nova data.

“É muito sacrifican­te. Temos que trazer aqueles garrafões de água congelada para ver se alivia. Mas é complicado. Tem colega até que passa mal”, comentou um motorista que não quis se identifica­r.

RIO ÔNIBUS

Em nota, o Rio Ônibus diz que as empresas que integram os consórcios cumpriram as metas estipulada­s até o início da pandemia. E aproveitan­do o momento, o órgão afirmou que os ônibus sem ar condiciona­do estão de acordo com os novos protocolos sanitários, que “determinam, neste momento, a circulação dos ônibus com janelas abertas, para evitar a proliferaç­ão da nova doença, o que poderia inviabiliz­ar todo o projeto de refrigeraç­ão dos coletivos.”

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FOTOS DE REGINALDO PIMENTA Primavera chegou fervendo, e cariocas ainda têm que encarar veículos quentes, como os passageiro­s que embarcaram no 312 (Olaria -
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João Paulo Carneiro são obrigados a aguentar o calor escaldante sobre rodas
Blenda Carneiro e João Paulo Carneiro são obrigados a aguentar o calor escaldante sobre rodas

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