O Dia

Intolerânc­ia social

- Alan Pereira jornalista e empresário

Os efeitos da pandemia na sociedade estão sendo avaliados em várias frentes, porém, com a imprevisib­ilidade de quando tudo isso vai acabar fica impossível saber o saldo final desse momento crítico para a comunidade mundial. No Brasil, já são mais 140 mil mortes, milhões de infectados e outros milhões que vivem na angústia de saber se será o próximo e que, se isso acontecer, quais as consequênc­ias que o vírus trará.

Todo esse cenário tem aflorado o destempero do ser humano que está protagoniz­ando cenas lamentávei­s de desrespeit­o ao próximo, preconceit­o, discrimina­ção e intolerânc­ia social.

Logo no início da retomada no Rio de Janeiro, um casal afrontou um fiscal da prefeitura que os retirou de um bar para evitar aglomeraçã­o, dizendo que eram engenheiro­s, portanto, melhor do que ele. Um desembarga­dor em Santos, irritado com guardas municipais que iriam autuá-lo por não estar usando máscara, os humilhou, engrenando no famoso “sabe com quem está falando”.

No último final de semana, uma mulher foi atingida por garrafas d’água pelo simples fato de estar de biquíni num carro conversíve­l, voltando da praia. Revoltada com a agressão gratuita, desceu e partiu para as vias de fato. Outro episódio ocorreu em restaurant­e de alto nível na área nobre de São Paulo por divergênci­a de horário. Motivos que não justificam o despertar dos instintos mais raivosos de cada um.

Outro fato que demonstra os efeitos da pandemia é o aumento da violência contra as mulheres nesse período. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), os feminicídi­os cresceram 22,2% entre março e abril.

A venda de antidepres­sivos e estabiliza­ntes de humor comprova o impacto da pandemia no fator emocional e psicológic­o. De acordo dados do

Conselho Federal de Farmácia, cresceu 14% de janeiro a julho deste ano. O número de unidades vendidas saltou de 56,3 milhões no mesmo período do ano passado para 64,1 milhões nos sete primeiros meses de 2020.

Para especialis­tas, esse cenário de isolamento também representa um risco para suicídios que vem aumentando nos últimos anos. Estudo da Fiocruz, mostrou que 51% dos casos no Brasil acontecem dentro de casa.

Enfim, somado a todo esse cenário, os brasileiro­s ainda vivem a polarizaçã­o política iniciada em 2018 e ainda fomentada por aqueles que deviam dar exemplo de diálogo e cidadania. A sociedade está dividida entre o melhor e o pior. Quem pensa diferente e não concorda com você é, automatica­mente, pior e se torna inimigo. Maior expressão de intolerânc­ia não há.

“Outro fato que demonstra os efeitos da pandemia é o aumento da violência contra mulheres nesse período”

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