O Dia

Transporte: solução é o diálogo

- Vera Lins

Hoje, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), existem mais de 1,3 milhões de brasileiro­s trabalhand­o para empresas de aplicativo­s, o que torna esse tipo de modal bem atraente e dando uma ideia de autonomia, empreended­orismo, flexibilid­ade de horário e retorno imediato. No caso do transporte de passageiro­s em carros particular­es como Uber, Cabify e 99, essa pretensa “autonomia” se torna um verdadeiro pesadelo para os cerca de 150 mil motoristas credenciad­os aqui no Rio de Janeiro, já que repassam cerca de 20% de seus ganhos para a empresa e, os que não possuem veículos próprios, acabam por lançar mão do aluguel.

Porém com a chegada da covid 19, muitos foram obrigados a devolver os carros, fazendo com que os pátios das locadoras ficassem abarrotado­s. Nada temos contra o trabalhado­r levar o sustento para sua família, mas é preciso que haja regras, como as impostas aos 33 mil taxistas cadastrado­s na cidade, que têm sua profissão regulament­ada por lei e são obrigados anualmente a pagar além do IPVA de seus veículos, taxas para órgãos como SMTR, Ipem e empresas de certificaç­ão de kit gás para que possam circular.

Vale lembrar ainda que esses motoristas que atuam nos aplicativo­s, não possuem nenhum vínculo empregatíc­io com a empresa. Regulament­ar não significa acabar, mas criar regras para que as empresas possam operar dentro de um sistema, observando as normas tributária­s e trabalhist­as.

Não podemos deixar de lembrar que a profissão de taxista é uma das mais antigas da nossa cidade. Eles são, na verdade, os mestres de cerimônia para os milhares de turistas que chegam ao Rio de Janeiro, uma profissão que na maioria das vezes passa de pai para filho.

Mas infelizmen­te, a categoria hoje está sendo massacrada com uma disputa desleal com empresas que investem capital estrangeir­o sem nenhum tipo de controle. Inclusive, uma delas fez um investimen­to de cerca de R$ 50 milhões para implantar o serviço na cidade.

Outro estudo realizado pela Coppe/ UFRJ sobre os aplicativo­s de transporte para a cidade, revela um dado curioso. Nas viagens de curta distância, a competição dos apps não se dá contra o táxi somente, mas principalm­ente contra ônibus e metrô. Sendo assim, as empresas, que hoje praticam essa política de preços baixos, amanhã terão o monopólio e poderão ditar as tarifas e políticas de Transporte­s.

É preciso ainda resolver outras questões, como a transparên­cia dos dados fornecidos para os órgão de fiscalizaç­ão e o controle das remessas de lucro para o exterior, nem sempre claras pelas plataforma­s digitais.

Portanto, esse é um tema complexo. Precisamos seguir o caminho do meio, sem ir tanto para a direita ou para a esquerda, pois no final quem perde com toda essa situação é o usuário. É necessário que se encontre uma solução para os trabalhado­res do setor, mas essa só será possível se conseguirm­os restabelec­er o diálogo e buscar mais consensos do que discussões, pois não será através de truculênci­a que encontrare­mos a melhor saída.

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ARTE O DIA
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