O Dia

Na China é o Ano do Boi e no Rio é o do Jacaré

- Luarlindo Ernesto e-mail: lsilva@odia.com.br

AChina vive o Ano do Boi. O Rio de Janeiro vive o Ano do Jacaré. Aliás, o bicho é o animal mais badalado atualmente em nossas bandas. Querem me acompanhar no raciocínio, por favor ? Vamos lá. Tem o que surgiu na contramão da vacina para imunizar o povo da covid-19, tem o da marca de famosa grife francesa de roupas, temos, o que surgiu, em diminutivo, nos últimos dias no noticiário policial da cidade. E tem, ainda, o bairro.

É muito palpite para um bicho só. Será que os bicheiros estão cotando (diminuindo) o prêmio de possíveis ganhadores da loteria clandestin­a? Só falta mesmo o Ibama entrar na jogada e proibir alguma coisa. Ou mesmo nem dar bola, como tem acontecido ultimament­e. Detalhe para aumentar a lista do bicho: o bairro, que pegou emprestado o nome do Rio Jacaré, que nasce no Maciço da Tijuca e deságua na Baía da Guanabara.

Daí, faltou nadinha para emprestar o nome da favela que nasceu pouquíssim­o tempo depois, ali bem ao lado. Somente queria lembrar um detalhe que, parece, caiu no esquecimen­to: o povo não tem memória. Pelo menos, a frase é lembrada a todo instante por aí. O esquecido nisso tudo foi o Paulo Roberto de Moura Lima, tristement­e famoso nos anos 1980 no submundo do crime. O cara era mais conhecido pelo vulgo de Meio Quilo, considerad­o um bandido cruel com traidores do bando que chefiava mas, endeusado por grande parte de moradores da comunidade, quase um Robin Wood para os súditos naquela ocasião.

É muito palpite para um bicho só. Será que bicheiros estão cotando o prêmio de possíveis ganhadores da loteria clandestin­a?

Quando morreu, em 1988, durante tentativa de fuga, tipo cinematogr­áfica (igual ao do parceiro de crimes Escadinha), de helicópter­o, foi homenagead­o no Jacarezinh­o com festa de inauguraçã­o de um busto. Alguém lembra? Meio Quilo estava preso no complexo penitenciá­rio da Rua Frei Caneca (demolido) e a tentativa de resgate foi frustrada com reação, a tiros, dos guardas do presídio. O helicópter­o caiu e morreram

o piloto, o traficante que estava pendurado no estribo da aeronave e feriu outro bandido que sequestrou o piloto e o aparelho.

Ih, o caso foi notícia em todo o país. Principalm­ente porque foi nos mesmos moldes do resgate do Escadinha, da Ilha Grande. Mesmo dando zebra. Um segredo foi revelado, na ocasião, e deixou a política carioca um tanto quanto abalada: Meio Quilo mantinha romance com uma jovem, filha do vice-governador do estado...Vejam a salada que surgiu: misturaram o traficante, a polícia, a tentativa de fuga e um político. Prato feito para jornais, revistas, emissoras de rádios e televisões.

Entre o inquérito policial que apurou o sequestro do helicópter­o, e o piloto, os tiros dos guardas do presídio que derrubaram o aparelho, e as mortes, ainda restou um prejudicad­o. Calma, gente. O banco que financiou a compra da aeronave destruída na queda sobre o presídio, ficou sem receber as prestações devidas. Outra encrenca. O banco entrou na Justiça exigindo o pagamento dos papagaios restantes e o caso rolou nas prateleira­s de tribunais por longo tempo. Nem lembro se a instituiçã­o financeira recebeu o que deveria receber.

Mas, o caso não terminou aí. E o busto do bandido, erguido na principal praça do Jacarezinh­o? Bem, a nossa Polícia Civil foi incumbida de entrar na favela e derrubar e apreender a peça. Sob apupos e vaias. Não se sabe, até hoje, quem financiou a confecção da estátua. Mas eu tenho uns palpites.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil