O Dia

Ex-capitão do Bope cita erros da polícia em UPPs

Segundo Paulo Storani, faltaram estrutura e mais projetos nas comunidade­s

- BEATRIZ PEREZ beatriz.perez@odia.com.br CAROLINA FREITAS carolina.freitas@odia.com.br

Após o governador Cláudio Castro afirmar que pretende implementa­r no segundo semestre um projeto de ocupação nas favelas, o ex-capitão do Bope Paulo Storani elenca dois erros na gestão das Unidades de Polícia Pacificado­ra (UPP), inaugurada­s no Morro Santa Marta em 2008, no governo de Sérgio Cabral. Segundo o antropólog­o, faltaram estrutura e mais projetos dentro das comunidade­s, para além da presença da polícia.

“Você precisa estar controland­o o território para pacificar. O controle advém da permanênci­a em um território que está dominado pelo crime organizado. Você precisa ter estrutura mínima para isso. Isso foi um dos grandes erros no projeto”, avalia. Ao falar em estrutura, Storani cita a estrutura física e segucas ra, equipament­o, armamento, e principalm­ente efetivo. “O lado positivo dos projetos das UPPs era o conceito da proximidad­e. A ideia era o policial militar ir para dentro da comunidade. Esse PM tinha um perfil apropriado, com uma formação para isso. Era um projeto bem-vindo em médio e longo prazo”.

Outro erro do projeto das UPPs, segundo Storani, foi a falta de articulaçã­o de polítipúbl­icas que oferecesse­m oportunida­des aos jovens: “Se tivemos no Jacarezinh­o uma operação cuja justificat­iva era aliciament­o de menores de idade para o tráfico, nada é feito para que se impeça isso. A polícia sozinha não vai resolver”.

O projeto do Santa Marta, citado por Storani, surgiu com a ideia de acabar com anos de domínio de facções criminosas nas favelas e, enfim,

“pacificar” o Rio. Na época, Sérgio Cabral prometeu que iria levar as UPPs para outras comunidade­s. Alguns anos depois, no período de dezembro de 2008 a abril de 2014, o Rio contava com 37 unidades espalhadas pelo estado. Algumas foram extintas e tiveram seus efetivos incorporad­os aos batalhões dos bairros onde se localizava­m. Outras se transforma­ram em companhias destacadas — unidades vinculadas a um batalhão que fica fora da comunidade.

O DIA entrou em contato com o fundador do jornal “Voz das Comunidade­s”, Rene Silva, de 27 anos, morador do Complexo do Alemão, na Zona Norte. Para ele, o principal erro do governo foi ter colocado a polícia dentro da favela sem construir qualquer tipo de relação com os moradores. Ele disse que os projetos sociais e culturais que foram implementa­dos no início da UPP, além de não atingir nem 1% da população, não duraram sequer até às Olimpíadas.

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ESTEFAN RADOVICZ UPPs: o ex-capitão do Bope Paulo Storani elenca erros na gestão

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