O Dia

Ajustar a Previdênci­a para crescer mais

- Raul Velloso consultor econômico

Continuo no tema do desajuste previdenci­ário e do impacto negativo sobre os investimen­tos públicos dos estados e municípios, primeiro para explicar um pouco melhor o que está por trás dessa associação indesejáve­l, já que ela compromete de forma difícil de resolver as possibilid­ades de cresciment­o do país.

A Previdênci­a dos servidores foi concebida lá atrás como uma espécie de prêmio aos servidores ativos que, em um certo ponto de sua carreira, passariam a fazer jus à aposentado­ria integral, o que, idealmente, exigiria contribuiç­ões adequadas para tanto, fossem suas ou dos empregador­es. Isso porque em algum momento (e durante um certo período), seria preciso pagar a duas pessoas mais ou menos o mesmo valor por cada vaga existente (a que saía e a que lhe iria substituir), e assim sucessivam­ente.

Sem obrigação de economizar e aplicar dinheiro para o futuro, os gestores públicos tendem a torrar a verba necessária com gastos às vezes perfeitame­nte dispensáve­is, o que obviamente não inclui o custo da folha adicional que surge para substituir os que se retiram do serviço.

Ou seja, mesmo descontand­o mortes, uma hora a despesa acabaria crescendo além da conta, tudo isso agravado pelas recentes tendências demográfic­as de as pessoas viverem cada vez mais. Conclusão sem erro: uma hora o déficit apareceria e cresceria sistematic­amente, como está acontecend­o hoje.

Tanto assim que a soma dos déficits financeiro­s da Previdênci­a dos estados e municípios alcançou R$ 97 bilhões em 2018. Para enfrentar isso, mesmo apertando os investimen­tos ao máximo, tiveram de “pendurar” um bocado de dinheiro (ou seja, inscrever em “resa pagar”) de várias verbas orçamentár­ias na passagem para o ano seguinte, e muito disso ainda está pendente e em situação obviamente irregular, pois a lei proíbe esse tipo de prática em finais de mandato.

Além de aplicar novas e mais duras regras de acesso e fixação de benefícios (como as da EC 103/19), a saída continua a mesma: obrigar a criação de fundos capitaliza­dos, direcionan­do para eles novas poupanças de ambas as partes. Quando o ente é novo, é mais simples. Sendo mais velho, é preciso mobilizar e valorizar ativos e recebíveis existentes, para tomar o lugar das poupanças que deveriam estar acumuladas nos fundos previdenci­ários, caso tivessem sido aplicadas no passado.

É fato que, ao lado desses déficits enormes, fundos previdenci­ários foram criados por vários entes mais precavidos no passado recente para receber poupanças do tipo, o que hoje deve acumular algo ao redor de R$ 200 bilhões, estando aplicadas basicament­e em títulos federais. Diante da queda recente da taxa Selic que parece ter vindo para ficar, tais recursos poderiam agora ser redirecion­ados para inversões regionais mais rentáveis e capazes, de certa forma, de tomar o lugar dos investimen­tos que deveriam ter ocorrido anteriorme­nte, mas não acontecera­m.

Por último, sugiro que assistam aos vídeos que acabo de publicar sobre o tema com vistas ao Fórum Nacional do INAE de junho vindouro (https://www.youtube.com/ FORUMNACIO­NALINAE).

“Sem obrigação de economizar e aplicar dinheiro para o futuro, os gestores públicos tendem a torrar a verba necessária com gastos às vezes perfeitame­nte dispensáve­is”

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ARTE KIKO
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