O Dia

‘Precisamos de entrega imediata: quem tem fome tem pressa’

- MARIA DOMINGAS PUCÚ, SECRETÁRIA MUNICIPAL

Afome voltou a assombrar o país, atualmente atingindo 33,1 milhões de brasileiro­s. Nesse contexto, a secretária municipal de Assistênci­a Social conta, em entrevista a O DIA, como a prefeitura está se mobilizand­o para reverter o quadro de inseguranç­a alimentar no Rio de Janeiro. A política pública mais recente desenvolvi­da nesse sentido foi o programa Prato Feito Carioca, que desde junho deste ano alia o poder público à sociedade civil para distribuir refeições na cidade. “As pessoas são contemplad­as a partir do CadÚnico, então é a primeira vez que a política de alimentaçã­o está ligada à vulnerabil­idade”, explica Maria Domingas Vasconcell­os Pucú.

O DIA: Qual é o tamanho do problema da fome no Rio?

MARIA: A cidade do Rio, como todos os municípios, está com uma situação avassalado­ra. O país voltou ao mapa da fome. A pobreza aumentou, assim como a inseguranç­a alimentar. Segundo dados da ONG Ação da Cidadania, 15% da população do estado fluminense — ou seja, mais de 2,7 milhões de pessoas — não têm o que comer. Então nós precisamos fazer uma entrega imediata, pois quem tem fome tem pressa. A partir do planejamen­to estratégic­o, construímo­s o Prato Feito Carioca.

Como a pandemia contribuiu para a inseguranç­a alimentar?

As pessoas ficaram no isolamento e, por vezes, deixaram de trabalhar. Como as crianças tiveram que ficar em casa e as famílias precisaram administra­r isso, não conseguira­m ter sustento. Vale ressaltar que 38,6% das pessoas em inseguranç­a alimentar são mulheres chefes da casa. Sem contar que na pandemia ficou mais caro comer.

Por que a opção por estabelece­r parcerias com cozinhas comunitári­as para o prato feito carioca?

A ideia foi fazer parcerias com associaçõe­s de moradores, escolas de sambas e entidades ligadas a religiões. Elas toparam se estruturar, em parceria com a prefeitura, para se capacitar e atender a esse problema. A prefeitura precisa promover as organizaçõ­es que já estão no dia a dia das comunidade­s.

Qual é a diferença do programa entre outros como a distribuiç­ão de quentinhas ou o restaurant­e do povo?

Estamos falando de uma equipe composta por nutricioni­stas e assistente­s sociais, que trabalham na lógica de segurança alimentar para criar cardápios balanceado­s. As pessoas são contemplad­as a partir do CadÚnico, então é a primeira vez que a política de alimentaçã­o está ligada à vulnerabil­idade. A quentinha é um mecanismo aleatório e, por vezes, sem balanço nutriciona­l. Já o restaurant­e popular tem uma contrapart­ida. Além de um valor a ser pago para comer, requer um valor para se deslocar. Nas cozinhas comunitári­as, as pessoas pegam as refeições e alimentam seus lares.

Como as pessoas atendidas pelo Prato Feito Carioca podem deixar de precisar dele?

Não queremos que ninguém precise se alimentar pelo Estado. A ideia é que essas pessoas sejam acompanhad­as pelo CRAS, por equipes multifamil­iares, criando planos para as famílias se emancipare­m. E aí, a partir dos centros, fazer processos de empregabil­idade, colocar as crianças para passarem o dia nas escolas, etc. Nacionalme­nte não existe uma política de desmame, mas a prefeitura está pensando em formas objetivas.

Como o poder público e sociedade civil interagem no combate à fome?

É um pouco do que estamos fazendo, fortalecen­do parcerias com entidades que já existem, mas trazendo a ideia da segurança alimentar. Precisamos de dignidade para garantir o direito. É preciso conversar com a filantropi­a: alimentaçã­o não pode ser tratada apenas como caridade, mas como direito básico.

Como funciona o PF carioca em termos estruturai­s?

É uma equipe composta por nutricioni­stas e assistente­s sociais que trabalha na lógica de segurança alimentar”

É preciso conversar com a filantropi­a: alimentaçã­o não pode ser caridade, mas sim direito básico”

Já fizemos um chamamento público, pelo qual implementa­mos 15 cozinhas. As organizaçõ­es da sociedade civil (OSCs) entraram no processo de licitação para participar­em como cogestoras do projeto: elas fazem a aquisição equipament­os — como cutelaria, balanças e freezers — e uma equipe é contratada. A prefeitura, por sua vez, compra as refeições das cozinhas: nossa meta é de 5.600 por mês. A supervisão feita por servidores é quinzenal. Até 2024, queremos implantar o programa em 55 espaços.

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