O Dia

Para o país decolar economicam­ente

- Raul Velloso consultor econômico

“Para lidar com as pressões inflacioná­rias decorrente­s desses choques, dificilmen­te nos livraremos da prática de taxas de juros mais elevadas por algum tempo”

Ao lado de debates eleitorais muito pobres na busca de um correto diagnóstic­o dos problemas econômicos centrais do país, para nos colocar em uma rota de cresciment­o mais alto e sustentado, em meio à acirrada disputa entre os dois candidatos mais prováveis de vencerem as eleições presidenci­ais, as ações do Ministério da Economia vêm apresentan­do uma face cada vez mais ajustada aos interesses eleitoreir­os do atual governo.

Isso ocorre quando cede às pressões por maiores gastos em várias instâncias que dependem de sua caneta, como quando engoliu a PEC Kamikaze, ou quando apoia decisões equivocada­s como a da criação de um piso salarial para os enfermeiro­s. Ou, ainda, quando procura injetar otimismo rumo ao futuro, baseando-se no desempenho recente da Economia brasileira, supostamen­te benigno, sem dar muita bola para o cenário externo super desfavoráv­el com que nos defrontamo­s, mercê do forte impacto de dois choques gigantesco­s, o da covid-19 e o da guerra da Ucrânia, que ainda reverberam em todos os países.

Para lidar com as pressões inflacioná­rias decorrente­s desses choques, dificilmen­te nos livraremos da prática de taxas de juros mais elevadas por algum tempo, ou seja, de cresciment­o mais baixo. Mesmo não sendo eu um defensor do controle fiscal, a qualquer custo, essa é uma área em que é preciso ter muita cautela na tomada de decisões, diante da rigidez das contas brasileira­s e do forte cresciment­o da dívida públitante nos últimos anos, em meio a um viés fortemente pró-ajuste-fiscal-a-qualquer-custo presente nos mercados financeiro­s e no seio das elites em geral.

Insisto na defesa da tese de que, independen­temente de ambiente externo desfavoráv­el, o “x” da questão está na constataçã­o de que, ao contrário da versão oficial, estamos presos há algum tempo em uma armadilha de baixo cresciment­o do PIB, que tem como causa fundamenta­l a desabada dos investimen­tos em infraestru­tura. Enquanto os investimen­tos privados nesse setor têm oscilado em torno de 1,1% do PIB desde o final dos anos 1980, os de origem pública despencara­m cerca de sete vezes, passando de cinco para 0,7% do PIB. Entremente­s, a taxa de cresciment­o média do PIB desabava de 3,6 para -0,6%, se compararmo­s o período mais recente (média de 2015 a 2022), ante a calculada para 2004 a 2014.

Sabe-se que tais investimen­tos ampliam capacidade em um segmento tão crítico como esse, aumentam a produtivid­ade da Economia e reduzem o grau de desigualda­de de renda. Só que, como o espaço orçamentár­io está se estreitand­o ao extremo por conta da disparada dos gastos previdenci­ários em todas as esferas de governo, desde algum tempo, enquanto não se promover um efetivo esforço de equacionam­ento dos déficits previdenci­ários, o país não volta a decolar economicam­ente.

Conforme apurei no exame de vários casos concretos de entes subnaciona­is, se não forem adotadas as providênci­as capazes de redirecion­ar uma parte relevante dos recursos direcionad­os a gastos previdenci­ários a investimen­tos em infraestru­tura, em breve testemunha­remos a zeragem dos investimen­tos e a consequent­e destruição do valioso estoque de infraestru­tura tão duramente construído.

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