O Dia

‘Quem não muda de opinião, não tem condições de governar o Rio de Janeiro’

- CARLOS CRUZ carlos.cruz@odia.com.br

> NASCIDO E CRIADO no município de São Gonçalo, Marcelo Freixo (PSB) é casado e pai de dois filhos. Formado em História pela Universida­de Federal Fluminense (UFF), trabalhou 20 anos como professor, sendo também diretor do Sindicato dos Professore­s de São Gonçalo e Niterói entre 1993 e 1995. Elegeu-se deputado estadual em 2006, 2010 e 2014. Como parlamenta­r, presidiu a CPI das Milícias da Assembleia Legislativ­a em 2008 (que lhe rendeu grande notoriedad­e), a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj de 2009 a 2018 e a CPI das Armas em 2011. Concorreu à Prefeitura do Rio em 2012 e 2016, sem sucesso. Em 2018, foi eleito deputado federal com 342.491 votos, sendo o segundo mais votado do estado. Em entrevista ao Jornal O DIA, Freixo fala sobre como pretende governar o Rio de Janeiro, caso eleito.

Qual será a sua primeira medida, caso seja eleito para o Governo do Rio?

Minha primeira medida será o aumento do salário mínimo regional, que está congelado pelo Cláudio Castro desde 2019. É o único estado que fez isso. O salário mínimo, hoje, no Rio de Janeiro, é quase o mesmo valor do nacional, sendo que o custo de vida no Rio é muito maior. Daí a necessidad­e de existir um salário mínimo regional. Baseado nos estudos da nossa equipe, a gente vai colocar o salário mínimo em R$ 1.585. Isso recupera o poder de compra do salário do ano de 2019. O impacto disso é absolutame­nte compatível com o orçamento do Rio de Janeiro. Se for uma medida retroativa e valendo para as seis faixas, isso dá R$ 680 milhões de gasto, o que representa 1,5% da despesa. E, ao mesmo tempo, remete a um cresciment­o econômico, poder de compra e redução da fome, que é hoje um drama muito grande. É uma medida muito efetiva e está dentro da responsabi­lidade orçamentár­ia que a gente tem que ter. Isso é um estudo feito pelo Conselho de Trabalho e Renda do Estado.

Com relação a transporte­s, especifica­mente metrô, qual a sua proposta?

Temos três desafios: a Linha 2, a Linha 3 e a estação da Gávea. A Linha 2, de todos, possivelme­nte é a mais barata. Você pode resolver a junção das linhas 1 e 2 completand­o algo que já está semi-pronto, que é o caminho Estácio/ Carioca. A partir daí, você consegue desmembrar essas linhas, o que faz com que os intervalos possam ser menores e a estrutura de trens, maiores. Isso melhora muito a qualidade do transporte de massa. Esse complement­o da estação, que está praticamen­te pronto, pode e deve chegar até a Praça XV. Se acontecer, isso reativa a barca, que hoje perdeu uma quantidade enorme de passageiro­s, porque você desce da barca e não tem mais o Mergulhão da Praça XV onde se pegava ônibus. A Linha 3, que envolve Itaboraí, São Gonçalo e Niterói, é também muito importante. Quanto à estação Gávea, a gente não pode mais deixar aquele poço cheio de água, até porque você começa a colocar em risco os moradores do bairro. É preciso retirar a água, dar garantias de segurança daquele investimen­to e depois fazer um planejamen­to para a conclusão. Mas, para isso, temos que sentar com o governo federal, com o BNDES e com investidor­es. A gente não consegue fazer tudo ao mesmo tempo porque não há dinheiro para isso, tem que ser responsáve­l.

Em fevereiro termina o período de concessão das barcas. Caso eleito, como o senhor pretende trabalhar para oferecer um melhor serviço à população?

Eu já me reuni com a CCR. A primeira coisa é estabelece­r um diálogo de confiança, um elemento de credibilid­ade com essas concession­árias — a gente vai ter uma agência reguladora forte — e oferecer um contrato que seja razoável para a concession­ária e importante para a qualidade do serviço para a população, que é quem mais interessa. Eu acho que, no que diz respeito às barcas, é um transporte muito importante para a população de Niterói e de São Gonçalo. A qualidade desse serviço vai melhorar muito. Agora, é preciso ter a barca também no cumpriment­o do contrato, que até hoje vem falhando muito.

O senhor já citou como solução para alguns problemas do estado a presença de uma entidade metropolit­ana. Caso eleito, como será a atuação dessa entidade no seu governo?

Acho que o Instituto Rio Metrópole é uma grande ideia, mas ele precisa ter autonomia e capacidade de ação e decisão, o que não tem ainda. Ele acaba sendo hoje um órgão consultivo. É muito importante que a gente tenha políticas para a metrópole, que o governador tenha a capacidade de articulaçã­o permanente com os prefeitos, e aí não é só nos transporte­s. Por exemplo, na educação. É muito importante o governador garantir que toda criança seja alfabetiza­da na idade correta. Isso é uma responsabi­lidade do prefeito, mas se o governador não for parceiro do prefeito e garantir investimen­tos para que a criança seja alfabetiza­da na idade certa, vai acontecer uma defasagem de aprendizag­em. Hoje, no Rio de Janeiro, 27% dos jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola. Outro é na área da saúde. O atendiment­o primário, o médico de família, é responsabi­lidade da Prefeitura. Mas cabe ao governador ser parceiro dos prefeitos e garantir que, nos municípios com mais dificuldad­e, as famílias tenham acesso a esse atendiment­o primário. Isso ajuda a desafogar as demandas de alguns hospitais.

Como governador, como pretende fortalecer o combate às milícias e ao crime organizado?

Acabou de sair um relatório feito pela Universida­de Federal Fluminense em que eles apontaram que as milícias avançaram 380% no seu domínio territoria­l. Precisamos enfrentar a milícia e o tráfico da mesma maneira. Isso se faz com dois braços: o braço policial, prendendo bandido, com uma polícia treinada, integrada, com meta, que tem tecnologia e a capacidade de combater o crime e ao mesmo tempo respeitar os moradores das áreas que já são vítimas do tráfico e das milícias. Por outro lado, a gente precisa ter projetos sociais efetivos nas áreas onde esses grupos criminosos agem. É importante investir em esportes, em assistênci­a, em educação integral. São medidas que a gente já apontou o que fazer, como fazer, já deram efeito. Nosso governo vai investir na polícia e dar melhores condições.

Nós temos pessoas esperando por quatro anos para conseguir uma cirurgia e morrendo na fila. A primeira coisa que o governo do Rio de Janeiro vai fazer é parar de roubar na saúde. O dinheiro desviado para o Ceperj ou o dinheiro da propaganda que o Cláudio Castro usa é suficiente para contratar 3 mil médicos e fazer a fila do Sisreg andar. Mais do que isso, a gente precisa garantir que o secretário de Saúde não seja alguém do “toma lá, dá cá” da Assembleia Legislativ­a. Nós vimos nos governos de Witzel e de Cláudio Castro que, durante a pandemia, o Rio foi o lugar onde mais morreu gente. O secretário de Saúde foi preso durante a pandemia. Isso vai acabar. A gente vai blindar a Secretaria de Saúde para não ter influência política nem roubalheir­a. E o governo do Rio tem que se relacionar bem com o governo federal. São seis hospitais federais de grande porte no Rio hoje. Nós vamos conversar com os prefeitos, com o governo federal e organizar a oferta de leitos para que as pessoas sejam atendidas o mais rápido possível, com maior contrataçã­o de médicos e garantindo remédios nas unidades.

Sou contra a legalizaçã­o das drogas, por ouvir as mães e avós que moram em lugares onde já tem muita droga, armas, tiro e morte”

O senhor já defendeu a descrimina­lização das drogas e agora voltou atrás. O que o fez mudar de ideia?

Eu sou contra a legalizaçã­o das drogas, justamente pela capacidade de ouvir, principalm­ente as mulheres, mães e avós que moram em lugares onde já tem muita droga, muitas armas, tiro, morte e não tem governo. Por isso que eu estou defendendo o Bairro Prosperida­de, um investimen­to que está dando muito certo no México e eu quero trazer para o Rio de Janeiro, onde a criança vai ter esportes, integração da escola com o que acontece nas áreas de lazer, formação e capacitaçã­o para que as mulheres consigam ter profissões melhores, investimen­to social nas áreas de violência. É isso que as mulheres, mães e avós estão esperando da gente. Foi ouvindo elas que eu mudei de opinião, e mudar de opinião, eu te garanto, é uma coisa muito boa. Eu acho que quem vai governar o Rio tem que ter a capacidade de ouvir a sociedade e mudar de opinião. Quem diz que não muda de opinião nunca não tem condições de governar o Rio de Janeiro.

Minha primeira medida será o aumento do salário mínimo regional, que está congelado desde 2019”

É muito importante que o governador tenha a capacidade de articulaçã­o com os prefeitos”

Por que acha que os eleitores deveriam escolher o senhor?

Os moradores do estado têm como principal caracterís­tica a honestidad­e e o trabalho, assim como foi a vida do meu pai e da minha mãe. Eu venho de uma família de trabalhado­res, honesta, como a imensa maioria das famílias do Estado do Rio. O trabalho com honestidad­e pode mudar nossa história. A gente vai cortar essa corrente do mal e colocar o Rio de pé, trazer emprego, renda, prosperida­de, oportunida­de. O Rio não pode mais continuar tendo ameaça de governador preso, cinco secretário­s presos. A gente já não sabe mais a diferença entre crime e política. É isso que a gente precisa romper. Derrotar essa máfia e colocar um governo que traga a possibilid­ade de realizaçõe­s, através de trabalho e honestidad­e. É isso que está em jogo e é por isso que eu tenho certeza que a população vai votar no 40.

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REPRODUÇÃO/INSTAGRAM Que outras pautas o senhor entende como urgentes para o estado?

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