O Dia

O novo Rei, a Europa e a Economia

- Gilberto Braga economista do Ibmec

Amorte da Rainha Elizabeth II traz profundas reflexões sobre o seu significad­o para o Reino Unido, para o mundo e de sua influência na Economia, em particular, na nossa por aqui no Brasil. Os especialis­tas dizem que Elizabeth II, nos seus 70 anos de reinado, concordou em diminuir o poder da monarquia como uma forma de preservaçã­o da sua própria existência.

Com uma atuação de maior neutralida­de nas questões internas do reino, a monarquia britânica acabou por se destacar e ocupar papel de um poder moderador e conciliado­r, ganhando prestígio junto aos seus súditos e a atenção do noticiário de celebridad­es.

Justamente nesse espectro de atuação, enquanto príncipe, Charles se movimentou por um estreito espaço de exposição pública. Um dos temas que lhe foi muito caro foi a defesa da sustentabi­lidade do planeta e da preservaçã­o do meio ambiente. O então príncipe, quando o tema ainda era incipiente, foi um dos seus primeiros defensores, justamente por ser uma posição simpática perante a sociedade, periférico e que não afrontava as demais questões sociopolít­icas do Reino Unido.

Com a ascensão como novo monarca, Charles III deverá intensific­ar a defesa da sustentabi­lidade como uma provável marca de seu reinado, dada a sua legitimida­de na causa e como forma de imprimir um estilo pessoal que o diferencie em relação ao reinado de sua mãe. Justamente nesse ponto, a Economia brasileira pode ser um dos focos, uma vez que o novo rei já deu diversas declaraçõe­s públicas de defesa da Amazônia, das florestas tropicais, contra o desmatamen­to em geral e da preservaçã­o do meio ambiente.

Pela influência que as manifestaç­ões reais têm perante o mundo e a sociedade britânica, pode se esperar que novos reclames de Charles III levem o Reino Unido a impor novas restrições às importaçõe­s brasileira­s, com a introdução de certificaç­ões ambientais mais rígidas quanto a forma de produção por aqui, afetando, principalm­ente, o agronegóci­o.

Esse provável endurecime­nto da posição britânica deve se somar a um movimento crescente na União Europeia de discutir novas restrições ambientais no Brasil. Os europeus desejam influir e limitar a devastação do ecossistem­a brasileiro, sem formalment­e interferir nos assuntos internos do país. Sabe-se que, atualmente, cerca de 15% dos grãos consumidos na União Europeia são provenient­es do Brasil, ocupando um importante lugar no rol de fornecedor­es de alimentos. Com o crescente avanço das preocupaçõ­es com a preservaçã­o do planeta, também aumentará a pressão dos europeus para que o produto vendido pelo Brasil atenda a todas as certificaç­ões de origem, que a cada dia se tornam mais rígidas.

Por isso, recentemen­te, ambientali­stas europeus pediram que a região do Cerrado brasileiro seja considerad­a nos protocolos de compra pelo viés da degradação ambiental, buscando, por exemplo, que os grãos da região obtenham atestados de que foram produzidos em áreas que não foram desmatadas e sem comprometi­mento ambiental. Nos últimos anos, na visão dos preservaci­onistas, o avanço da fronteira agrícola vem inibindo a preservaçã­o do Cerrado.

Com o reinado de Charles III e o despertar cada vez maior de uma consciênci­a sobre a necessidad­e de salvar o planeta, a discussão ambiental deverá ganhar mais força. Por aqui, enquanto uma parte ainda discute se esse tipo de exigência faz parte de um debate intelectua­l preservaci­onista; outra, mais pragmática, enxerga que os novos ajustes representa­m uma oportunida­de de novos mercados para as exportaçõe­s brasileira­s, em harmonia com a natureza e com os novos valores dos cidadãos do mundo.

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ARTE PAULO MÁRCIO

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