CIGARRO ELETRÔNICO: O QUE ESTÁ EM JOGO É UM MERCADO MILIONÁRIO
Estudo aponta que 16,8% dos adolescentes entre 13 e 17 anos já experimentaram o produto no país. Pesquisa diz que Brasil tem pelo menos dois milhões de usuários
Na roda de amigos, na porta da balada, na saída da universidade, em festas e até dentro de casa, os cigarros eletrônicos estão por toda parte. Os dispositivos têm diversos nomes e surgiram com a promessa de serem mais seguro que o cigarro convencional. Mesmo facilmente encontrados em lojas e até mesmo na internet, o eletrônico é proibido no Brasil — e movimenta um mercado milionário. Apesar de não haver dados oficiais, fonte da Receita Federal acredita que a venda dos vapes, uma das várias denominações , chega a movimentar “algumas centenas de milhões de reais por ano”.
Em julho, a Anvisa manteve a proibição da comercialização, importação e propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar. O veto, porém, não impede que sejam comercializados ilegalmente. Cresce, portanto, a importância do debate sobre regulamentação do produto e os efeitos colaterais à saúde.
Os cigarros eletrônicos surgiram nos anos 2000 e tiveram crescimento impulsionado por novas empresas. Depois, grandes multinacionais de tabaco como British American Tobacco (BAT), Altria e Philip Morris compraram participações nos fabricantes ou criaram as próprias companhias. Hoje, são cerca de 30 mil marcas de e-cigarros e líquidos à venda na Europa. Em 2014, as vendas globais eram de US$ 2,76 bilhões (R$ 14,8 bilhões). Após cinco anos saltaram para US$ 15 bilhões (R$ 80,7 bilhões).
Segundo pesquisa do Ipec Inteligência de 2021, no Brasil, há mais de dois milhões de consumidores. Em 2020, eram 948 mil, alta de 120%. Em um ano, mais que dobrou. O dispositivo é popular entre os jovens. Conforme pesquisa do Inquérito Telefônico de Fatores
Em 2019, as vendas do produto saltaram para US$ 15 bilhões (R$ 80,7 bilhões)
Não há evidências de que os cigarros eletrônicos sejam menos danosos” ANDRÉA REIS CARDOSO, chefe da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto.
de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), feita pela Vital Strategies e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), um em cada cinco jovens no Brasil, de 18 a 24 anos, usa o cigarro eletrônico.
Já um outro estudo da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), em parceria com o IBGE de 2019, aponta que 16,8% dos adolescentes entre 13 e 17 anos já experimentaram o dispositivo — que são voltados exclusivamente para maiores de 18 anos.
Os vapes funcionam por meio de bateria que aquece um líquido interno, composto por água, aromatizante, nicotina, propilenoglicol e glicerina. Em vez de combustão, ocorre a vaporização. O líquido é aquecido e o vapor aspirado. Há modelos mais modernos, que se parecem com pen-drives. Alguns são fechados: não é possível manipular o líquido. Outros podem ser recarregados com substâncias, sabores, formatos e aromas.
“A indústria do tabaco sabe que os jovens gostam de objetos que estão na moda e que sempre buscam novidades”, afirma a chefe da Divisão de Controle do Tabagismo do Inca, Andréa Reis Cardoso.